Você deveria ser inteligente. Ok?
Vou lhe contar um caso inventado. Mas no fundo acho que você já viu isto acontecer, se não com você, pelo menos com algum conhecido.
“João estuda muito e tira boas notas. Ele não falta às aulas e, em casa, estuda a matéria. Nada demais, portanto, que suas notas sejam altas. O problema é que você faz o mesmo, mas o resultado é outro. Ir às aulas e estudar é o correto. Os seus professores sempre disseram isto e as notas do João são a prova viva do que todos sabem. E você, é claro, tenta fazer o que é certo. E por que não dá certo? Pouca inteligência? Pouco estudo? (Isto não, porque por mais que você fique na frente do livro, o estudo não rende). Pelo jeito, o que dá certo para o João não funciona com você.”
Então, vamos analisar um pouco melhor esta estória. Acho que existem algumas diferenças importantes. O João em aula fica atento, entende a aula e ao final é capaz de fazer um resumo razoável dos tópicos mais importantes da aula. Você tenta, mas não consegue. No caderno ele não copia tudo o que o professor diz, mas as anotações são claras e ordenadas. As suas, não (por mais que você tente). Na casa dele (ou na biblioteca, ou em qualquer outro lugar), o estudo rende. Ele estuda com facilidade e gosta do que faz. Você se esforça por horas a fio, mas não funciona. E a lista poderia prosseguir com a mesma ladainha. Dá para perceber que você faz tudo o que ele faz, mas não faz COMO ele faz? E isto é crítico no processo de estudo. É fundamental perceber que vocês são diferentes.
Mas alto lá! Até agora só mostrei as diferenças do ponto de vista do “menos”. Mas você é “mais” em outras coisas. Ao contrário de você, o João tem poucos amigos, conversa pouco, é meio tímido. Ele é muito “paradão”; você é mais agitado. Faz muitas coisas ao mesmo tempo. Ele mergulha nos livros, você prefere vídeos, conversas, fotografias. Você gosta de fazer coisas, ele de ler sobre elas. Você é muito prático, gosta de resolver coisas. Você volta e meia ajuda seus amigos a “fazerem as pazes”, é meio diplomata.
Você é bom no que faz. Preste atenção: Quando você usa suas qualidades, você tem sucesso. E eu repito (para que fique muito claro este ponto): Quando você usa suas qualidades, você tem sucesso. O problema aqui então é que o João usa as qualidades dele na escola e você não. Pior do que isto, busca o sucesso usando características que não são suas. João está certo. Você não.
Acho que seria mais inteligente e mais fácil fazer necessário usando o que temos de melhor. E porque não fazemos isto? Porque o “políticamente correto” é sempre fazer como o João. Esta “ditadura” da inteligência afirma que só existe uma forma de estudar e de aprender. Afirma que o objetivo da escola é formatar a todos de uma só maneira.
Mas eu nego isto. Concordo, por óbvio, que o objetivo de um médico é ser competente em salvar vidas. O de um juiz, julgar com justiça. De um fiscal ou delegado, garantir que a lei seja cumprida. O de um engenheiro, que bens e produtos sejam bem projetados e que funcionem corretamente.
Não ponho em dúvida as metas e perfis de competência de cada profissão. O que afirmo é que as pessoas são diferentes. Acredito, como diz o ditado, que “todos os caminhos levam a Roma”. Por isto afirmo que o caminho será mais frutífero, suave e prazeroso na medida em que cada um respeitar o seu próprio estilo. Por exemplo, tomemos a inteligência. As pessoas acreditam que inteligência é uma coisa só, e que cada um tem uma quantidade fixa de inteligência. Isto não é verdade. Como Howard Gardner, psicólogo da universidade de Harvard, acredito que a inteligência é múltipla. Isto é, cada um possui em diferentes quantidades, diferentes tipos de inteligências. Por exemplo, um pode ser muito bom com números e ruim com imagens. Outro pode ser o contrário. Por isto não faz muito sentido perguntar se A é mais inteligente que B. É muito mais real e interessante perguntar em que aspectos da inteligência A e B são mais competentes. E ainda mais interessante e produtivo é averiguar de que maneira A e B podem ter mais sucesso usando suas inteligências individuais.
E isto funciona pelo menos por duas razões. Conhecer sua inteligência evita que você tente imitar pessoas que são diferentes de você. Fazê-lo significa o fracasso próximo ou então o sucesso à custa de muito esforço e perseverança desnecessários. Tentar ser o que não se é, além de difícil, é freqüentemente inútil.
A segunda razão é que conhecer o seu tipo de inteligência permite usar a força da sua inteligência em benefício próprio. Sim, porque João teve sucesso fazendo isto. E você poderá melhorar seu desempenho imitando-o. Mas preste atenção. O sucesso do João se deve primariamente ao respeito ao estilo. Não às técnicas de estudo que ele utiliza.
Você, portanto, ao imitá-lo deve fazê-lo respeitando o seu tipo de inteligência e não as técnicas de estudo do outro. Isto porque, dependendo do seu tipo de inteligência, as suas técnicas de estudo podem ser diferentes e, mais que isto, as maneiras de implementá-las podem ser também diferentes.
Por isto, me perdoe a redundância. É inteligente estudar de forma inteligente, usando a inteligência que é a sua e de mais ninguém. Ok?