Quatro dicas para estudar de forma inteligente (com comentários)
Esta é uma lista publicada no Globo de 13/10/2014 (pag 24) contendo quatro dicas de estudo. Achei-as interessantes. Por isto reproduzo-as aqui. No entanto, acho que merecem alguns comentários.
“1-Faça anotações à mão:
“Quando digitamos, gravamos as informações como se elas estivessem sendo ditadas; já a escrita à mão é mais lenta, então temos que pensar mais sobre o que escrevemos, e aí aprendemos. Pode ser um processo mais demorado, mas acabará poupando tempo no final.”
Comentário: Isto é certo e errado, a depender do contexto. Se você tiver tempo para fazê-lo, por exemplo, quando estiver em casa estudando, é correto. Neste caso você pode parar e refletir. Pode voltar a um ponto mais obscuro e pensar como fazer a anotação. No entanto em situações de aula isto nem sempre é possível. Aqui você se divide entre anotar e prestar atenção, em uma situação cujos resultados nem sempre são adequados. Se anotar tem matéria para estudar depois, mas quando o faz não adianta porque não entendeu o que foi apresentado. Se prestar atenção, entende, mas o resultado é o mesmo porque depois não lembra o que entendeu e não há nenhuma anotação para auxiliá-lo. A solução que proponho é fazer anotações inteligentes onde o que se anota são as ideias e não o que o professor diz. Há uma maneira adequada para fazê-lo, mas isto ultrapassa o limite deste post. Em concordância com a dica também não recomendo muito a gravação. Você a ouvirá depois? E como será esta audição? Fará transcrições ou resumos do material? Se isto ocorrer até que pode ser útil, mas não é o que habitualmente ocorre. Quanto à digitação, o problema não é o digitar em si, mas como você o faz. Se mecanicamente de pouco adianta, é como o ditado citado na dica. Porém se refletido e raciocinado tudo bem. Só que neste caso voltamos ao que comentamos logo ao início. Você tem tempo para digitar como se estivesse escrevendo?
“2-Não estude, pratique:
Em vez de reler a mesma frase 20 vezes, tente lembrar de memória cada tópico. Em um estudo americano, indivíduos que faziam um teste costumavam ir melhor numa segunda prova logo após a primeira do que aqueles que só tinham estudado. Isto acontece porque o cérebro pratica retenção da informação.”
Comentário: O problema aqui é o conceito de estudar; para mim (assim como para muitos outros especialistas) “reler a mesma frase 20 vezes” não é estudar. Isto é “decorar”. Significa dizer que você memoriza uma lista de itens sem qualquer significado para você. Estudar é refletir, relacionar um conteúdo à outro, resolver situações que necessitam da aplicação do material a ser estudado. Então, neste sentido, estudar É praticar. Mas isto quer dizer que a repetição não tem nenhum papel? Que o estudo americano está errado? Não é bem assim. Sim, estudantes que ALÉM de estudar fizeram a prova se deram melhor na segunda prova que aqueles que só estudaram. Pois bem, em primeiro lugar perceba que os primeiros fizeram MAIS que os segundo. Não é razoável que tenham tido melhor desempenho? Os que fizeram as duas provas, estudando para a primeira, praticaram mais que os que só estudaram para a segunda. Mais investimento no estudo; melhor desempenho na prova. Lógico, não é?
“3-Mantenha um mesmo ritmo:
Estudar muita coisa num dia só faz com que um grande volume de informação entre rapidamente na cabeça, mas também faz com que esta informação seja esquecida rapidamente. O espaçamento ajuda a incorporar o aprendizado na memória de longo prazo, dizem os pesquisadores.”
Comentário: Esta dica está baseada, entre outros, no estudo de Ebbinghaus, cuja curva eu apresento abaixo. A curva vermelha mostra o que acontece com a memorização de um único episódio de estudo (de uma lista de palavras). Note que o esquecimento se faz rapidamente. Até aqui estou de acordo com a dica. Tem pouco valor estudar muito em um dia e pouco ou nada no outro. Só que a seguir há um detalhe que faz toda a diferença. O espaçamento sozinho não ajuda em nada. Se a cada novo período de estudo você está estudando algo inteiramente novo, então é como se você estivesse sempre na curva vermelha. Mas preste atenção nas curvas verdes. Perceba como a inclinação das curvas é progressivamente menor. Isto acontece, porque no experimento de Ebbinghaus, os sujeitos estudavam DE NOVO o mesmo assunto. Isto é, a repetição fazia com que o esquecimento demorasse mais a ocorrer. Por isto o espaçamento só vai funcionar se em cada período de estudo houver alguma repetição do que já foi estudado. Mas atenção; não estou sugerindo que antes de estudar o conteúdo seguinte você estude novamente tudo o que você já estudou. Longe disto. Aqui, o repetir refere-se muito mais à algum resgate de memória do material prévio (com algumas consultas eventuais ao livro ou apostila). E ainda mais, refere-se principalmente a uma atitude regular e constante de relacionar aquilo que você está aprendendo agora com os conteúdos que você já estudou.
“4-Durma
Se você nunca mais quiser pensar sobre conjugação de verbos em francês, vire a noite estudando antes da prova. Mas se você quer realmente aprender e fixar a disciplina de maneira saudável durma: seu cérebro precisa de tempo para processar que é visto e estudado, e isso acontece durante o sono.”
Comentário: Concordo. Durante o sono há mudanças bioquímicas e eletrofisiológicas que favorecem a consolidação e ampliação da memória. Cabe aqui apenas o reparo que não é qualquer cochilo que faz isto. É necessário que o seu sono, independente da quantidade de horas dormidas, seja razoavelmente tranquilo de modo que o sono possa aprofundar-se de maneira saudável.