Como vencer no ENEM (parte I) – Você precisa de tempo!
Por que tantos fracassam? Uma pesquisa da UniCarioca colocou em números as razões. Uma delas é que “que mais de um terço dos alunos do ensino médio, 39%, ainda não começou a encarar a maratona de estudos para a prova, que este ano será realizada nos dias 5 e 6 de novembro. Dos 61% restantes, 20% começaram a estudar nos últimos dois meses; 27% a partir do último trimestre e apenas 14% dos entrevistados alegaram estar ‘com a mão na massa’ desde o ano passado”.
Há pouca novidade nisto, embora sirva como um alerta. Mas há um aparente paradoxo. Todo mundo “sabe” que precisa de tempo para aprender. Se perguntados, a maioria dos alunos dirá isto. Mas se é assim, porque tantos demoram a iniciar seus estudos?
A razão é simples. Uma coisa é falar “da boca para fora” isto. Outra muito diferente é realmente acreditar nisto e agir em conformidade. E para acreditar no que se diz, é em primeiro lugar importante entender como e porque isto é verdade. Se você não sabe porque; pode achar plenamente justificado deixar para depois.
Porque você precisa de tempo?
Uma forma óbvia de justificar é dizer que a matéria é muita e não dá para estudar tudo em pouco tempo. Tá bom, isto é verdade, mas não ajuda muito. Mas pelo menos você há de concordar comigo que é uma razão. Ok?
Então vamos a outras razões. Eu espero que com elas eu possa te convencer a se preparar com mais antecedência.
A primeira razão: Um erro de raciocínio.
Você sabe que precisa estudar muito, ou seja, sua quantidade estudo tem que ser grande. E então você pensa corretamente:
- Tempo total de estudo = Número de dias estudados x número de horas diárias de estudo
Mesmo sendo óbvio e verdadeiro isto pode gerar um erro. Se você tem (ou decide ter) poucos dias, é só aumentar número de horas diárias. E dá-lhe “virada”. E dá-lhe noite em claro. Pois é. Mas a coisa não funciona assim. Note que uma coisa não compensa a outra.
Você precisa equilibrar o quanto você estuda em cada dia com o total de dias de estudo. Se você acredita nisto, é como se estivesse dizendo que se alguém se empanturrar de comida em um dia, pode passar uma semana sem comer. E você já viu que não dá certo. Por mais que você coma em um dia, no dia seguinte, pela manhã ou à noite, já bate aquela fome. Mas agora então você precisa saber porque o estudo tem que ser regular. E isto nos leva à segunda razão.
A segunda razão: O Enem mudou.
Em termos de aprendizado a “virada” nunca foi boa coisa. Mas antigamente, no antigo vestibular, havia muitas questões de “decoreba”. E assim isto até podia funcionar em alguns casos restritos. Mas hoje o Enem mudou. O exame não está mais centrado na memorização simples de fatos e datas. Seu foco está mais na compreensão, argumentação e resolução de problemas.
Então a memorização simples sai de cena. Agora você precisa saber usar estes fatos e datas para fazer algo. Precisa demonstrar que sabe porque algo é como é, qual o significado disto ou daquilo ou ainda como defender o seu ponto de vista.
Este foi outro problema identificado pela pesquisa: “quando o assunto é redação, 28% dos estudantes têm dificuldade para selecionar e organizar argumentos para defendem seu ponto de vista no texto. Depois desse quesito, 22% dos alunos apontam como obstáculo compreender a proposta da redação e, a partir dela, utilizar conceitos de todas as áreas do conhecimento para abordar o tema.”
Mas note que a redação é apenas o ponto que aparece mais. O Enem se preocupa em avaliar o seu aprendizado neste sentido mais amplo, e não o que você decorou nestes últimos dias ou semanas. No lugar de um amontoado desconexo de fatos e datas, vVocê precisa mostrar um conhecimento mais estruturado. E assim vamos para a terceira razão.
O seu cérebro exige tempo: Aprender não é “fast food”!
Para aprender corretamente, você precisa de tempo. E eu explico porque.
Vejamos o seguinte exemplo. Suponha que você quer passar pelo seu celular uma mensagem para alguém. Você precisa do telefone dela, então pergunta para alguém, passa a mensagem e não pensa mais no assunto. No dia seguinte quer passar outra mensagem, mas não tem a mínima ideia do número. Não, você não tem problemas de memória. Isto é normal.
Você só precisou daquele número naquele momento específico e só para uma mensagem simples. Nada demais. Além do mais, o seu celular “lembra” daquilo que você não se preocupou em memorizar.
Neste caso você usou o que se chama de memória de curto prazo. Este tipo de memória acontece sem esforço e rapidamente. Maravilha, não? O problema é que o que vem fácil, vai fácil. Sua duração é de poucos minutos ou horas. “Tipo assim” a memória do computador. Quantas vezes você já não perdeu textos ou dados quando esqueceu salvá-los? Tá na tela, tá bom. Desligou, já era…
Estudar em cima da hora é assim. Você joga tudo na memória de curto prazo e torce para cair na prova. Volta e meia você não escuta coisas do tipo: “Puxa, a pergunta tal. Eu estudei isto ontem!”. Que sorte. A informação ainda não tinha sido esquecida. Pois é, mas quanta coisa você consegue estudar “ontem”? Pior ainda; e quando a pergunta exige relacionamentos entre diferentes fatos?
E o Enem tem exigido cada vez mais este tipo de habilidade. Pegar um monte de informação, relaciona-la entre si e produzir uma resposta. E ainda mais difícil; em alguns casos como, por exemplo, na redação, é quando não basta a compilação e relacionamento da informação. É exigido de que disto resultasse uma proposição ou opinião que não estava inteiramente em nenhum dos fatos compilados; mas no seu conjunto e dada a sua perspectiva pessoal.
É aí que entra a memória de longo prazo. Qual é a diferença?
Você sabe o seu cérebro tem neurônios e que eles se comunicam entre sí com eletricidade. Ok? São milhões de potenciais de ação seguindo de um lado para outro e vice-versa. A memória de curto prazo é “meio que” por aí. Ligou a tomada, a lâmpada acende, desligou, ela apaga. Por isto ela é rápida; é eletricidade sendo gerada e correndo rapidamente entre um neurônio e outro. O processo é mais complexo que isto, mas esta imagem simples te diz também porque o esquecimento é rápido. Passou um tempinho, a eletricidade acaba.
Já a memória de longo prazo é diferente. Pense em um campo de futebol. O gramado está verde e bem conservado. Mas você também percebe que na frente do gol, ele geralmente está mais gasto, e às vezes nem grama tem. A razão é simples. Os jogadores correm por todo o campo nos mais diferentes trajetos, mas é na frente do gol que se dão as mais frequentes e maiores concentrações de jogadores em disputa. De novo, é “meio que” por aí. Trajetos neuronais mais frequentemente seguidos tendem a ter mais facilitados o trânsito dos potenciais de ação. A comunicação se faz com mais facilidade. E, neste caso, já que estamos falando de mais e mais neurônios formando redes. comunicação mais fácil significa mais memorização, compreensão e relacionamento. É como nas redes sociais, maior a sua rede, mais você informa e se informa sobre o que está acontecendo. Se você precisa saber de algo, sempre tem alguém que fala. Se você quer marcar alguma coisa, é mais fácil encontrar a(s) pessoa(s) certa(s).
Mas note que também como nas redes sociais, isto só acontece se você estiver ativo. Significa dizer que ao estudar você tem que fazer um neurônio conversar com outro. Significa repetir e percorrer variados trajetos neuronais. Significa também construir e colocar em ação variadas redes.
E assim, do ponto de vista do estudo você precisa, ao estudar, estar frequentemente ligando um assunto com outro. Relembrar algo que já estudou, a partir de algo que você está estudando agora. Significa ainda estar continuamente se perguntando coisas do tipo: “para que serve isto?”, “por que isto é assim?”, “qual a causa?”, “qual a consequência?”, “onde eu aplico isto?”, “isto me lembra o quê?”. Estas e outras perguntas são as ferramentas que você utiliza para construir as variadas redes neuronais.
Mas note que isto tudo não é parecido com as redes sociais? Você conversa, pergunta, comenta, avisa, convida e etc. É desta forma que você participa. E é por meio de sua participação que os seus amigos, fans ou seguidores vão aumentando dia a dia.
Agora, isto leva tempo. Você tem que continuamente estar presente na rede. Não é assim? Não adianta passar um dia inteiro no facebook e só voltar lá um mês depois. A comunicação tem que ser rápida contínua e regular, se não todo mundo te esquece. Não é assim?
Da mesma forma o seu estudo. A virada ou o estudo intensivo não funciona. Você precisa de tempo para compreender e sedimentar o seu aprendizado. Precisa de tempo para fazer os relacionamentos. Precisa de tempo para que seus neurônios possam formar redes. Precisa de tempo para que as redes recém-formadas possam se estabilizar.
Só para concluir:
Então espero você esteja convencido que o tempo é uma variável fundamental para o seu sucesso no Enem. Resumindo:
- “Virada” não dá certo. Você precisa de estudo regular e contínuo.
- O Enem mudou. Para compreender e relacionar conteúdo você precisa de tempo.
- Desenvolva a memória de longo prazo. É isto o que o seu cérebro precisa.
Então fica minha mensagem final: Tenha sucesso no Enem. Dê tempo ao tempo!