Inteligência e cérebro segundo Gardner
Na semana passada terminamos de definir os critérios que deveriam ser preenchidos por uma inteligência candidata. Um deles era o Isolamento potencial por dano cerebral. Isto é, se a idéia de inteligências múltiplas é verdadeira, então um dano cerebral específico poderia anular uma dada inteligência sem afetar significantemente as outras.
Afirmar a veracidade deste raciocínio é discutir o funcionamento cerebral. Isto porque para isto o cérebro deveria possuir uma organização tal que permitisse um funcionamento independente das suas diferentes funções. Assim, discriminar entre um funcionamento “global” (equipotencial) ou “compartimentalizado” (localizacionista) do cérebro é crucial para a aceitação da teorias das inteligências múltiplas.
Visões Anteriores
Na visão localizacionista prevaleceu uma crença correlativa de que diferentes partes do cérebro servem a diferentes funções cognitivas. Já na visão equipotencial o cérebro foi considerado um órgão geral no qual as funções podem ser desenpenhadas e habilidades representadas em qualquer seção do sistema nervoso.A inteligência tendeu a ser considerada, como uma capacidade unitária.
K. Lashley sugeriu que a quantidade de tecido cerebral intacto,ao invés de sua indentidade particular determinaria se um organismo poderia desempenhar uma tarefa. Para isso foi realizado uma experiência com ratos. Através de estudos sobre este caso, pesquisadores viram que não fazia diferença retirar partes do cérebro, bastava deixar algumas partes que a tarefa seria desenvolvida.
No final do século o periodo para os holístas foi novamente excelente pois a inteligência foi relacionada à quantidade de massa cerebral ao invés de sua localizaçao particular.
Entretanto outros estudos revelaram que algumas áreas do cérebro provam ser de especial importância na solução de tarefas que se pensa medir a inteligência. E isto na visão de Gardner mostrou que o sistema nervoso estava longe de ser equipotencial.
Visões Atuais
Os Psicólogos
Com abordagem na cognição, a partir de pespectivas divergentes, psicólogos endossaram a noção de que a cognição humana consiste em alguns mecanismos cognitivos “de finalidades específicas” supostamente dependentes “de instalações duráveis” neurais.
De acordo com a evolução, os seres humanos vieram a possuir alguns mecanismos de processamento de informações de finalidade específica com freqüencia chamadas de “mecanismos computacionais”. Alguns deles nós compartilhamos com alguns animais (percepção facial), enquanto outros provam ser peculiares aos seres humanos (fraseado sintático).
Esses mecanismos funcionam em dois sentidos:
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Cada um funciona de acordo com seus próprios princípios e não está “ligado” a nenhum outro módulo; ou
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Podem operar sem estar direcionados a fazê-lo, simplesmente na presença de determinadas formas de imformação a ser analisadas.
Esses mecanismos podem ser disparados por determinados eventos ou informações advindos do ambiente.É possivel que alguns possam ser acessíveis ao uso consciente ou à exploração voluntária; e o potencial para nos tornarmos cientes do funcionamento do nosso próprio sistema de processamento de informações pode ser característica especial dos seres humanos.
Os Pesquisadores
Grande parte de pesquisadores na área cognitiva não acreditam que as evidên cias sobre a organização do cérebro se jam relevantes para os seus interesses ou sentem que processos neurais devem ser tornados consistentes com relatos cognitivos ao invés de vice-versa. Os cognitivos americanos crêem na exis tência de capacidades de resolução de problemas extremamente gerais que encur tam o caminho para todos os conteúdos.
Consenso
Uma descrição razoável e aceita pela maioria dos pesquisadores é de que o cérebro pode ser dividido em regiões específicas, cada uma mostrando-se relativamente mais importante para outras.Todas importam mais com gradientes definidos de importância. Poucas tarefas dependem inteiramente de uma região do cérebro,só que ao examinar qualquer tarefa razoalmente complexa, descobre-se estímulos de regiões cerebrais.
Sistema Nervoso – Organização
A arquitetura do sistema nervoso é bem organizada com especificidade em aparência e organização. As diferenças na sua organização parecem estar intimamente li gadas a diferenças nas funções às quais diferentes partes do cérebro servem.Ex: Áreas do córtex envolvidas em funções sensoriais primárias (a percepção de vi sões e sons distintos) amadurecem primei ro que as associações que efetuam conexões entre modalidades sensoriais.
Os Níveis
A estrutura organizacional do sistema nervoso pode ser considerada em dois níveis separados de detalhe: uma estrutura de granulação fina ou molecular e uma estrutura mais ampla ou molar. Isto foi reconhecido na divisão do Prêmio Nobel de 1981, tanto por estudiosos da estrutura molecular como do nível molar.
Em relação aos relatos sobre os níveis do cérebro fica esclarecido que seus hemisférios não apresentam funções distintas como dito anteriormente. Pois em algumas situações, como uma lesão de uma parte do cérebro responsável por uma função, que foi perdida, zonas do outro hemisfério que não é dominante, podem ser mobilizadas para adquirir funções substitutas, contornando em parte o problema.
Nível Molar
Nível que trata de regiões que podem ser prontamente inspecionadas a olho nu (áreas maiores do córtex cerebral). Ex: Em um ataque cardíaco pode ser visualizada a área do cérebro que foi destruída através de medições radiológicas e evidentemente ser examinada com grande precisão no post-morten.
Nível Molecular
O córtex cerebral humano pode ser visto como organizado em colunas ou módulos, sendo estas verticais à superfície do córtex e apresentam aproximadamente 3 milímetros de comprimento e entre 0,5 a 1 milímetro de largura, sendo reconhecidas à medida que formam entidades anatômicas separadas que dão surgimento a diferentes funções quase-independentes.
Referências
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Gardner, H. : Estruturas da mente – A Teoria das inteligências Múltiplas, Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1994.
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