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Para Refletir

Toda semana um novo texto.
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Uma história de duas cidades

16 set 2022
Maria Teresa Guimarães

Um viajante, ao se aproximar de uma cidade grande, perguntou a uma mulher sentada à beira da estrada:

“Como são as pessoas nessa cidade?”

“Como são as pessoas no lugar de onde você vem?”

“Uma gente horrível”, respondeu o viajante. “São pessoas egoístas, em quem não se pode confiar, detestáveis sob todos os aspectos.”

“Ah”, disse a mulher, “você vai achar o mesmo tipo de gente por aqui.”

O homem mal tinha se afastado quando outro viajante parou e fez à mulher a mesma pergunta, curioso sobre os habitantes da cidade. Mais uma vez, a mulher quis saber como eram os habitantes da cidade de onde vinha o homem.

“Pessoas boas, honestas, trabalhadoras e compreensivas com os outros e com elas mesmas”, respondeu o segundo viajante.

A sábia mulher retrucou:

“Pois é esse mesmo tipo de gente que você vai encontrar por aqui.”

Willy McNamara.

 

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Buscar

09 set 2022
Maria Teresa Guimarães

Que aquele que procura esteja sempre em busca: a verdade esconde-se para poder ser encontrada…

Um velho rabino tentava fazer seu neto compreender isso: “Quando você brinca de esconde-esconde com um amigo, imagine sua expectativa e seu sofrimento se ele se esconde e você para de procurá-lo!”

…Nossa vida, no entanto, só faz sentido quando estamos dentro deste jogo, desta busca…

O primeiro passo sobre o caminho da iniciação é, portanto, reencontrar o desejo de jogar, o sabor da busca, da procura, fazer de si mesmo um buscador e, quando tivermos encontrado, permanecer sempre em busca para descobrir incessantemente novas profundidades naquilo que foi descoberto.

Jean-Yves Leloup, O Sentar e o Caminhar.

 

 

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Você e Eu

02 set 2022
Maria Teresa Guimarães

Fazer Terapia é decisão, escolha, caminho, reflexão, entrega, emoção, sentimento, transpiração, respiração e mudança.
Iniciar um processo terapêutico nem sempre é fácil. Até pode ser simples. No entanto, às vezes você empaca na etapa “decisão”. Você já pensou a respeito, já conversou sobre o tema, já viu possibilidades. Porém acaba vacilando no momento de dar o passo para seguir adiante.

A ideia de se colocar diante do espelho, começar a desanuviar a visão e abrir os olhos para um encontro mais sincero com o seu ser pode soar como algo ameaçador. Talvez, a melhor das ameaças e, por que não, o maior dos desafios, nesse caso, seja justamente aprender a ser leal ao seu coração, à sua verdade e às suas diferenças.

O comprometimento com as mudanças que você tanto deseja e que, ao mesmo tempo, te assusta, te faz, muitas vezes, adiar o início da caminhada nesse processo de autoconhecimento.

Terapia é a busca do resgate da alma, é jogar luz no caminho a ser trilhado, é aprender a firmar os próprios passos.

E ser Terapeuta é a disposição para cuidar, acolher, compartilhar e se solidarizar. Ser Terapeuta é, assim como você que busca terapia, me comprometer com o mergulho na minha essência, olhar para o próprio umbigo, reconhecer o humano aqui dentro, com nossas fragilidades, faltas, vazios e verdades.

Ser Terapeuta é, antes de tudo, querer estar, de corpo e alma, diante das nossas máscaras, dos nossos disfarces, que servem para encobrir a história que, desde sempre, quisemos viver. A história que aprendemos, mas que também podemos reescrever, para recontá-la com a verdade do nosso coração.

Só assim construo condições saudáveis para cuidar, com mais integridade, da pessoa, do ser humano que, diante de mim, se dispõe a confiar, abrindo o seu coração, revelando as suas angústias, seus medos, suas dores e, também, suas alegrias e vitórias.

Grata a você que me ajuda a ser!

Maria Teresa Guimarães.

 

 

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Chapeuzinho amarelo

26 ago 2022
Maria Teresa Guimarães
Era a Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo,
aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada
nem descia.
Não estava resfriada
mas tossia.
Ouvia conto de fada
e estremecia.
Não brincava mais de nada,
nem de amarelinha.
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol
porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada,
deitada, mas sem dormir,
com medo de pesadelo.
E de todos os medos que tinha
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.
Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
Mesmo assim a Chapeuzinho
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
Mas o engraçado é que,
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo.
É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
O lobo ficou chateado.
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando e a menininha saber
com quem não estava falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Aí, Chapeuzinho encheu e disse:
“Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!”
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu de chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.
Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,
Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,
com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.
Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:
O raio virou orrái;
barata é tabará;
a bruxa virou xabru;
e o diabo é bodiá.
Chico Buarque.
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E o homem se fez verbo

19 ago 2022
Maria Teresa Guimarães

Qual teria sido a primeira palavra proferida pelo homem? E a primeira frase? Se um dia a ciência viesse a reconstruir o vocábulo inaugural, ele designaria o espanto da vida consigo mesma. A frase a ser articulada, talvez milhares de anos mais tarde, ampliaria esse sentimento: até hoje todas as palavras, em todas a frases, circulam em torno da mesma inquietude. Os homens se comunicam para comunicar sua perplexidade e, dentro dela, envolvidos como crisálidas em seus casulos, o medo e a esperança.

Podemos enganar esse espanto, preço que se paga pela consciência, com a fé, e podemos administrá-lo pela curiosidade, que nos leva às indagações e especulações filosóficas. E é nesse convívio com o mistério, às vezes mais sereno, às vezes mais penoso, que o homem se fez e se faz. A frase é sábia quando carrega dúvida; é quase sempre estulta quando presume traduzir certeza.

Mauro Santayana, em Duailibi das Citações – Roberto Duailibi

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Para que tanto barulho?

12 ago 2022
Maria Teresa Guimarães

Já vivemos em meio a tantos barulhos na nossa vida diária: obras, trânsito etc. E ainda temos que conviver com muitos outros barulhos abusivos.

São caixas de som nas calçadas, festas ao ar livre, ou mesmo em local fechado, sem limite de volume. Fogos noite adentro acompanhados daquilo que chamam de paredão do som, que faz estremecer janelas e os nossos corações. Motos que passam a qualquer hora do dia e da noite acelerando sem dó nem piedade.

São barulhos que refletem os próprios barulhos internos, tão indesejados e incômodos que o melhor é ignorá-los. Ouvir o que está dentro? Tentar entender? Refletir sobre o que essa voz interna oferece como possibilidade de busca para mudanças e, a partir daí, promover uma melhor qualidade de vida, colaborando com a saúde individual e do próximo? Nem pensar! Para quê?

Estão surdos para si próprios e para o mundo, provocando a surdez de quem está disposto a ouvir a si próprio, a sua alma e o seu coração. Estão surdos para a sua essência, impedindo o silenciar de quem vive na casa ao lado, na rua próxima, e, até mesmo, de quem vive a uma certa distância. Esse barulho que ensurdece, reverbera e segue por longos trajetos.

O pensamento de que tudo pode no individual, sem se considerar o direito à privacidade do outro, já virou lugar comum. Triste momento em que estamos vivendo… Porém, precisamos manter a determinação na tentativa de mudar essa situação. Vai mudar, vai passar… E que seja logo!

Maria Teresa Guimarães.

 

 

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Bibliotecas como um modelo do universo

05 ago 2022
Maria Teresa Guimarães

Um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o facto de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo título se conhece. Na verdade acontece muitas vezes ir-se à biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a principal função da biblioteca, pelo menos a função da biblioteca da minha casa ou da de qualquer amigo que possamos ir visitar, é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, todavia, se revelam extremamente importantes para nós.

A função ideal de uma biblioteca é de ser um pouco como a loja de um alfarrabista, algo onde se podem fazer verdadeiros achados, e esta função só pode ser permitida por meio do livre acesso aos corredores das estantes.

Se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem e, volto a recordar, à medida do homem quer também dizer alegre, com a possibilidade de se tomar um café, com a possibilidade de dois estudantes numa tarde se sentarem num maple e, não digo de se entregarem a um amplexo indecente, mas de consumarem parte do seu flirt na biblioteca, enquanto retiram ou voltam a pôr nas estantes alguns livros de interesse científico, isto é, uma biblioteca onde apeteça ir, e que se vá transformando gradualmente numa grande máquina de tempos livres.

Umberto Eco, A Biblioteca.

 

 

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Existe uma porta por onde avós e netos precisam passar

29 jul 2022
Maria Teresa Guimarães

Pela própria natureza do amor genuíno que brota dessa relação, essa porta já é construída aberta, escancarada, sem trancas.

Mas cabe a nós, mães e pais, simplesmente uma coisa: dar passagem.

Eu convivi mais de dez anos com a minha sogra antes de vê-la se transformar em avó dos meus filhos.

Antes, era ela quem dava passagem para que eu pudesse entrar. Hoje, sou eu. Hoje, é você.

É nossa função deixar que elas entrem pela porta do ciclo da vida que seguiu e assumam seus papéis de avós com unhas, garras, dentes e coração.

Para que a cada abraço dos netos, elas recebam também um pouco de seus filhos de volta.

Para que a cada olho no olho, elas se reconectem com algo que possam ter perdido lá atrás.

Para que elas carreguem nossos filhos no colo enquanto aliviam nos ombros um pouco do peso de um passado que não conhecemos, mas sabemos que existiu.

Deixemos que elas entrem, no máximo sorrindo de longe ao vê-los brincar no chão construindo pistas de carrinhos ou castelos de areia enquanto sabemos que elas estão, na verdade, construindo novas histórias pra contar para si mesmas.

Sejamos as que dão licença para que elas estejam em um cômodo novo, onde para elas importa muito mais estar do que para nossos filhos, que ainda não sabem direito o que significa ter essa presença que acolhe, brinca, cozinha, cuida, sorri.

Vamos convidá-las a entrar porque a sogra e a mãe que se tornam avó têm diante de si novas chances.

Oportunidades que não tiveram antes ou que talvez tenham deixado escapar.

Toda vez que elas cruzam essa porta, ressignificam algumas coisas que nem sabem que precisam. Desconstroem definições de antes e caminham rumo a finais mais felizes.

Tudo isso só é possível se a gente der passagem. Enquanto me afasto, torço também para que, um dia, quando for a minha vez, eu seja recebida do outro lado por alguém que me convide a entrar.

Trecho retirado da carta aos pais do livro A Vez da Vovó, da autora Gabriela Campanella.

 

 

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O tempo sem pressa

22 jul 2022
Maria Teresa Guimarães

…o corpo está longe de ser uma espécie de vítima do tempo; pelo contrário, ele conduz o tempo em seu benefício. Entretanto, uma vez que você força sobre o corpo os próprios medos e concepções negativas acerca do tempo, o problema surge. Vamos começar pela simples convicção de nunca termos tempo suficiente. É essa convicção que cria os prazos finais, como uma linha de chegada. Se não cruzar a linha, você perde. Seu corpo faz sua parte no jogo. Se você se descobre correndo para cruzar a linha de chegada, os batimentos cardíacos irão disparar, os vasos sanguíneos se contrair e a mente se acelera para manter o ritmo de tudo o que você precisa fazer. Tudo isso são alterações dos ritmos corporais e consequentemente quebras do aprimorado mecanismo de controle de tempo do seu corpo. O mais nocivo, porém, é você tratar o tempo como adversário.

Deepak Chopra (Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma).

 

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Analisado, sim… Mas preservando a espontaneidade!

08 jul 2022
Maria Teresa Guimarães

Se as pessoas são superanalisadas, não será por culpa do analista, que terá fornecido excessiva interpretação, sem deixar ao analisando a iniciativa de seu próprio processo?

Dra. von Franz: Eu não diria isso. Eu penso que poderá contribuir para esse estado lamentável mas, em geral, de acordo com a minha experiência, essa não é a única razão. Conheço analistas que são completamente passivos e primam em não interferir mas, apesar disso, podem ainda produzir analisandos superanalisados, porque eles mesmos fazem isso!
Pois o que foi positivo no começo, a necessidade de descobrir, de refletir e compreender o que está acontecendo, é vivenciado como algo muito reparador. Eles saíram de um problema por reflexão, por meditação sobre esse problema e, naturalmente, como isso possuía uma qualidade tão reparadora no início, vão em frente e acabam perdendo o momento certo.
Penso, inclusive, que é necessário que cada caso atinja um período de super análise, que isso é uma fase necessária do trabalho, um estágio que deve ser alcançado para que então possa ocorrer esse retorno consciente, isto é, a percepção consciente da necessidade de retornar à espontaneidade, e de retornar a ela de uma forma constante, pois caso contrário, a pessoa resvalará inconscientemente para o estado anterior.

Marie-Louise Von Franz, Alquimia: Introdução ao Simbolismo e à Psicologia, pg 202-203, Cultrix, 1993.

 

 

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“Quanto menos entendemos, mais julgamos.” – Mia Couto

01 jul 2022
Maria Teresa Guimarães

O que o poeta faz é mais do que dar nome às coisas. O que ele faz é converter as coisas em aparência pura. O que o poeta faz é iluminar as coisas.

No ano de 2007, Mia Couto participou, em Campinas – SP, de um Congresso sobre leitura. O homenageado era o poeta Ferreira Gullar e Mia iniciou o seu discurso falando na importância de “desarmadilharmos” o mundo. Segundo ele, “compete-nos desarmadilhar o mundo para que ele seja mais nosso e mais solidário. Todos queremos um mundo novo, um mundo que tenha tudo de novo e muito pouco de mundo. A isso chamaram de utopia.”

O escritor passa, então, a discorrer sobre as armadilhas do mundo contemporâneo, abordando desde o maniqueismo até a “biologização da identidade” que, segundo ele, são itens a serem “desarmadilhados”.

Esta intervenção de Mia Couto foi registrada no livro de ensaios “E se Obama fosse africano?”, onde poderá ser lida em sua integralidade. Segue o texto de Mia Couto:

As armadilhas de dentro
A nossa tentação é quase sempre maniqueísta. A visão simples que separa os “bons” dos “maus” é sempre a mais imediata. Quanto menos entendemos, mais julgamos.

A cilada maior é acreditarmos que as armadilhas estão sempre fora de nós, num mundo que temos por cruel e desumano. Ora, por muito que nos custe, nós somos também esse mundo. E as armadilhas que pensávamos exteriores residem profundamente dentro de nós. Quebrar as armadilhas do mundo é, antes de mais, quebrar o mundo de armadilhas em que se converteu o nosso próprio olhar. Precisamos de passar um programa antivírus pelo nosso hardware mental. Escolhi falar dessas ratoeiras interiores que nos convertem em nómadas deambulando entre ecos e sombras.

A armadilha da realidade
Uma das primeiras armadilhas interiores é aquilo que chamamos de “realidade”. Falo, é claro, da ideia de realidade que actua como a grande fiscalizadora do nosso pensamento. O maior desafio é sermos capazes de não ficar aprisionados nesse recinto que uns chamam de “razão”, outros de “bom-senso”. A realidade é uma construção social e é, frequentemente, demasiado real para ser verdadeira. Nós não temos sempre que a levar tão a sério.

Quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes”. Essa lição se converteu num lema da minha conduta. Ho Chi Minh ensinou a si próprio a ler para além dos muros da prisão. Ensinar a ler é sempre ensinar a transpor o imediato. É ensinar a escolher entre sentidos visíveis e invisíveis. É ensinar a pensar no sentido original da palavra “pensar” que significava “curar” ou “tratar” um ferimento. Temos de repensar o mundo no sentido terapêutico de o salvar de doenças de que padece. Uma das prescrições médicas é mantermos a habilidade da transcendência, recusando ficar pelo que é imediatamente perceptível. Isso implica a aplicação de um medicamento chamado inquietação crítica. Significa fazermos com a nossa vida quotidiana aquilo que fizemos neste congresso que é deixar entrar a luz da poesia na casa do pensamento.

A armadilha da identidade
A mais perigosa armadilha é aquela que possui a aparência de uma ferramenta de emancipação. Uma dessas ciladas é a ideia de que nós, seres humanos, possuímos uma identidade essencial: somos o que somos porque estamos geneticamente programados. Ser-se mulher, homem, branco, negro, velho ou criança, ser-se doente ou infeliz, tudo isso surge como condição inscrita no ADN. Essas categorias parecem provir apenas da Natureza. A nossa existência resultaria, assim, apenas de uma leitura de um código de bases e nucleótidos.

Esta biologização da identidade é uma capciosa armadilha. Simone de Beauvoir disse: a verdadeira natureza humana é não ter natureza nenhuma. Com isso ela combatia a ideia estereotipada da identidade. Aquilo que somos não é o simples cumprir de um destino programado nos cromossomas, mas a realização de um ser que se constrói em trocas com os outros e com a realidade envolvente.

A imensa felicidade que a escrita me deu foi a de poder viajar por entre categorias existenciais. Na realidade, de pouco vale a leitura se ela não nos fizer transitar de vidas. De pouco vale escrever ou ler se não nos deixarmos dissolver por outras identidades e não reacordarmos em outros corpos, outras vozes.

A questão não é apenas do domínio de técnicas de decifração do alfabeto. Tratase, sim, de possuirmos instrumentos para sermos felizes. E o segredo é estar disponível para que outras lógicas nos habitem, é visitarmos e sermos visitados por outras sensibilidades. É fácil sermos tolerantes com os que são diferentes. É um pouco mais difícil sermos solidários com os outros. Difícil é sermos outros, difícil mesmo é sermos os outros.

A armadilha da hegemonia da escrita
Uma terceira armadilha é pensar que a sabedoria tem residência exclusiva no universo da escrita. É olhar a oralidade como um sinal de menoridade. Com alguma condescendência, é usual pensar a oralidade como património tradicional que deve ser preservado. O culto de uma sabedoria livresca pode contrariar o propósito da cultura e do livro que é o da descoberta da alteridade.

Certa vez, um menino de rua em Maputo veio-me devolver um livro que ele vira nas mãos de uma estudante à saída da escola. Notando a minha fotografia na capa, esse menino acreditou que a estudante me tinha roubado o livro. Me comoveu esse menino que atravessou a cidade para me devolver algo que, no entender dele, me pertencia. Mas o que ele me entregava era mais do que um objecto. Ele me entregava a inquietação profunda, a interrogação: a quem pertence realmente um livro? Ele é nosso porque o adquirimos, sim. O livro deve ser objecto e mercadoria para chegar às nossas mãos. Mas só somos donos desse objecto quando ele deixa de ser objecto e deixa de ser mercadoria. O livro só cumpre o seu destino quando transitamos de leitores para produtores do texto, quando tomamos posse dele como seus co-autores.

A mais importante linha divisória em Moçambique não é tanto a fronteira que separa analfabetos e alfabetizados, mas a fronteira entre a lógica da escrita e a lógica da oralidade. A absoluta maioria dos 20 milhões de moçambicanos vive e funciona num tipo de racionalidade que tem pouco a ver com o universo urbano. Mas em Moçambique, como no resto do mundo, a lógica da escrita instalou-se com absoluta hegemonia. Nesses casos, pressupostos filosóficos do mundo rural correm o risco de ser excluídos e extintos. Algumas das ideias que venho defendendo nesta comunicação estão claramente presentes na epistemologia da ruralidade africana. A concepção relacional da identidade, inscrita no provérbio: “Eu sou os outros”; a ideia de que a felicidade se alcança não por domínio mas por harmonias; a ideia de um tempo circular; o sentimento de gerir o mundo em diálogo com os mortos: todos estes conceitos constam da rica cosmogonia rural africana. É evidente que não se pode romantizar esse mundo não urbanizado. Ele necessita de enfrentar o confronto com a modernidade. O desafio seria alfabetizar sem que a riqueza da oralidade fosse eliminada. O desafio seria ensinar a escrita a conversar com a oralidade.

Não são só os livros que se lêem
Falamos em ler e pensamos apenas nos livros, nos textos escritos. O senso comum diz que lemos apenas palavras. Mas a ideia de leitura aplica-se a um vasto universo. Nós lemos emoções nos rostos, lemos os sinais climáticos nas nuvens, lemos o chão, lemos o Mundo, lemos a Vida. Tudo pode ser página. Depende apenas da intenção de descoberta do nosso olhar. Queixamo-nos de que as pessoas não lêem livros. Mas o deficit de leitura é muito mais geral. Não sabemos ler o mundo, não lemos os outros.

Vale a pena ler livros ou ler a Vida quando o acto de ler nos converte num sujeito de uma narrativa, isto é, quando nos tornamos personagens. Mais do que saber ler, será que sabemos, ainda hoje, contar histórias? Ou sabemos simplesmente escutar histórias onde nos parece reinar apenas silêncio?

Lembrei aqui o episódio do menino de rua porque tudo começa aí, na infância. A infância não é um tempo, não é uma idade, uma colecção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. Quase tudo se adquire nesse tempo em que aprendemos o próprio sentimento do Tempo.

A verdade é que mantemos uma relação com a criança como se ela fosse uma menoridade, uma falta, um estado precário. Mas a infância não é apenas um estágio para a maturidade. É uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.

Recordo-me de que a guerra tinha deflagrado no meu país e o meu pai me levava a passear por antigas vias-férreas à procura de minérios brilhantes que tombavam dos comboios. Em redor, havia um mundo que se desmoronava mas ali estava um homem ensinando o seu filho a catar brilhos entre as poeiras do chão. Essa foi uma primeira lição de poesia. Uma lição de leitura do chão que todos os dias pisava. Meu pai me sugeria uma espécie de intimidade entre o chão e o olhar. E ali estava uma cura para uma ferida que eu não saberei nunca localizar em mim, uma espécie de memória de alguém que viveu em mim e fechou atrás de si um cortinado de brumas.

Pois eu vivo praticando a lição de leitura do meu pai que promove o chão em página. E estou aplicando o ensinamento de Ho Chi Minh que despromove a prisão em possibilidade de página. Deste modo aprendendo algo que sei que nunca chegarei a saber.

Enquanto escrevia o meu romance O último voo do flamingo viajei pelo litoral do sul de Moçambique à procura de mitos e lendas sobre o mar. Mas tal não aconteceu. Dificilmente havia histórias ou lendas. O imaginário destes povos pertencia invariavelmente à terra firme. Apesar de habitarem o litoral, os seus sonhos moravam longe do oceano.

Aos poucos fui entendendo — aquelas zonas costeiras eram habitadas por gente que chegou recentemente à beira-mar. São agricultores-pastores que foram sendo empurrados para o litoral. A sua cultura é a da imensidão da savana interior. Em suas línguas não existem palavras próprias para designar barco. O pequeno barquinho toma o nome a partir do inglês — bôte. O navio grande é chamado de xitimela xa mati (literalmente, “o comboio da água”). O próprio oceano é chamado de “lugar grande”. Pescar diz-se “matar o peixe”. Deitar a rede é “peneirar a água”.

As armadilhas de pesca são construídas à semelhança daquelas usadas na caça. Os territórios de colecta de mariscos na praia são parcelados e sujeitos a pousio, exactamente como se faz nos terrenos agrícolas. Ao contrário do que sucede no centro e no norte de Moçambique, estes povos pescam sem serem pescadores. São lavradores que também colhem no mar. O seu assunto continua sendo a semente e o fruto. Os seus sonhos moram em terra e os deuses viajam pela chuva.

Nós estamos todos como esses povos que desconheciam a relação com o mar. O chamado “progresso” nos empurrou para uma fronteira que é recente, e olhamos o horizonte como se fosse um abismo sem fim. Não sabemos dar nome às coisas e não sabemos sonhar neste tempo que nos cabe como nosso. Os nossos deuses dificilmente têm moradia no actual mundo.

Mas é exactamente nesse espaço de fronteira que estamos aprendendo a ser criaturas de fronteira, costureiros de diferenças e viajantes de caminhos que atravessam não outras terras mas outras gentes. A poesia de Gullar deu mote a este encontro. O poeta Gullar defende que a poesia tem por missão desafiar o impossível e dizer o indizível. O que o poeta faz é mais do que dar nome às coisas. O que ele faz é converter as coisas em aparência pura. O que o poeta faz é iluminar as coisas. Como nos versos com que encerro:

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

Via Revista Pazes.

 

 

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Tchau outono! Bem-vindo inverno!

24 jun 2022
Maria Teresa Guimarães

E o ciclo das estações faz o seu movimento natural, como tudo na vida e em nós.

Os ciclos se fecham, se abrem, se renovam e trazem as transformações necessárias para o nosso desenvolvimento.

Para bom entendedor, meia volta basta para seguirmos e concluirmos a volta inteira.

É círculo, é a roda da vida que gira, buscando manter o seu eixo íntegro. Tem mudança? Sim. Porém, é importante manter a integridade, a inteireza. O que só se consegue quando colocamos luz no que é substancial.

A roda da vida segue seu curso e, em sua sabedoria, deixa-se girar com leveza. Como num ballet, os giros só se equilibram se mantivermos o olhar focado no ponto de partida, para a ele retornarmos mantendo o nosso centro, apesar do que se transformou. Após o ciclo completo, já é um outro momento com sentimentos e sensações renovados.

Sabemos ser temporário esse momento de despedida do outono. Sabemos ser temporário esse tempo de receber o Inverno. Sabemos ser temporário tudo o que se move, porque é transformação.
Todas as estações estão fora e dentro de nós. Que sejamos capazes de sentir, entender e, com leveza, aceitar os giros naturais desse nosso ballet da vida.

Tchau Outono!

Bem-Vindo Inverno!

Mais Teresa Guimarães.

 

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Plantar ensina

10 jun 2022
Maria Teresa Guimarães

Já ouvi, algumas vezes: “Você tem um verdadeiro jardim aqui, que bênção!”. Amo os vasos que planto e, nesse sentido, sim, eles são uma bênção. Tudo o que nos desperta a capacidade de amar é uma bênção. Sempre me ocorre, porém, que quando se fala em bênção parece algo caído do céu. Meus jardins não existem por acaso ou geração espontânea. É assim que eles nascem, como na foto, em meio a trabalho, esforço, sujeira seguida de horas de limpeza, cuidado e dedicação, em inúmeros sábados, domingos e feriados. Escolho me dedicar a eles por várias horas, em vários dias. É escolha, não sofrimento, que fique claro, mas há esforço envolvido, trabalho braçal, cansaço.

Jardins e vasos existem em função do cuidado diário que recebem. Há vida ali e quem planta vida tem responsabilidades a cumprir. A entrega é retribuída em beleza infinita que alimenta os olhos, a alma e até o corpo. Jardins só existem onde alguém se dedicou a plantá-los, só prosperam onde alguém se dedica à entrega, a mantê-los, alimentando, hidratando, contendo pragas, se espetando, sujando as mãos, revirando a terra.

Assim, também, dentro de nós: só deixam de existir, em nosso interior, as ervas daninhas que cuidamos de conter e extirpar; só existe, em nós, aquilo que plantamos; só prospera e viceja, em nós, aquilo que recebe nutrição e quem escolhe o que nutrir, em si, somos nós mesmos. Escolhas exigem trabalho para que se materializem.

Plantar é escolha de entrega e dedicação, escolha do que se deseja ver brotar e crescer. O direito à escolha é uma bênção, mas as escolhas, em si, essas cabem a cada um.

Mariane Branco Alves

 

 

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A teimosia da esperança

03 jun 2022
Maria Teresa Guimarães

Hoje não há razões para otimismo.
Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo.
Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.
Camus sabia o que era esperança.
São suas as palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível…”
Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina.
O otimismo tem suas raízes no tempo.
A esperança tem suas raízes na eternidade.
O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre.
A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje, é tudo o que temos no século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões.

Rubem Alves, 1933-2014.

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A menina que mora em mim

27 maio 2022
Maria Teresa Guimarães

A menina que mora em mim por vezes visita-me para dar uma olhada na minha realidade.

Algumas vezes sorri de boca inteira como se olhasse num espelho. Outras, encara-me com estranheza e arrepio.
É quando estou longe do caminho das flores.

A menina que mora em mim acorda-me à noite. E de manhã continua no berço como se nada tivesse acontecido. É ela que guarda o meu tesouro no seu colo de criança: esperança e fé.

E é por isso que quando me perco dela, ela corre de novo pelo caminho, catando as flores dos quintais e as derrama todas em cima de mim.

Esse é o seu jeito de dizer: Acorda, mulher! Volta para o teu jardim!

Miryan Rezende.

 

 

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