Promessas enganosas da Educação a Distância – Você está pronto para estudar sozinho?
“Propaganda enganosa, boletos de mensalidades impressos com valores diferentes do contratado, dificuldades para falar com a secretaria do curso ou para se inscrever em disciplinas. Esses problemas, relatados ao GLOBO por alunos de escolas de ensino superior do Rio e de Niterói, vêm transformando o sonho do diploma universitário em pesadelo. E mostram que escolher uma universidade é tarefa tão complexa quanto optar por um curso.” (O GLOBO, 25/7/2012)
Diferentes aspectos da EAD tem sido objeto de discussão; fatores políticos, econômicos, técnicos, currículo, projeto instrucional, entre outros. O artigo do GLOBO privilegia a falta de cumprimento pelas instituições de ensino das promessas que fazem quando tentam vender seus cursos. E isto é algo muito relevante para o candidato à cursos a distância.
Outro aspecto importante é o aprendiz. Não são todos os que estão preparados para o estudo independente. Sim, alunos que trabalham precisam da EAD. Mas eles também precisam de um apoio para poder estudar a distância. E isto nem sempre é dado nestes cursos.
Na universidade o enfoque que dou às pesquisas do meu grupo de estudos dirige-se à aprendizagem relacionada ao aprendiz. Mais especificamente debruça-se sobre opiniões e vivências sobre o processo de aprendizagem em si, transformações pessoais decorrentes do curso e aspectos ligados à possibilidade de gerência metacognitiva.
Temos observado que parte importante das dificuldades de alunos em cursos a distância decorre de limitações na sua autonomia e capacidade de estudo independente. Por exemplo; em survey com 286 com alunos do primeiro período do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas a distância de um consórcio de universidades públicas no Rio de Janeiro, observamos que apenas 35% se referiram a dificuldades relacionadas ao design didático do curso em tela. A maior dificuldade apontada pelos alunos foi relacionada a aspectos de cunho pessoal (65% das assertivas). E nestas, 68% referiam-se a problemas em adaptar-se ao método da EAD.
Considerando a importância do estudo independente na EAD, é significativo que apenas 3% dos alunos tenha tido algum tipo de ensino formal de técnicas de estudo, 57% jamais tiveram qualquer tipo de informação sobre o assunto e os 40% restantes tenham sido instruídos de maneira informal por amigos, professores ou livros.
Talvez por isto boa parte das estratégias de aprendizagem utilizada tenha sido as que favorecem estudo mais superficial, tais como a leitura silenciosa (79%), sublinhar (76%) e anotar (58%). Dado interessante, é que apesar da grande dificuldade apontada ser de ordem pessoal; quando solicitados a sugerir soluções apenas 7% referiu-se a responsabilidades individuais, sendo os 93% restantes dirigidos ao design instrucional.
Em outro estudo, este qualitativo com 23 alunas de Licenciatura em Pedagogia, o quadro foi similar. Os sujeitos relataram dificuldades em estabelecer rotina e disciplina de estudo, interagir com outros alunos, adaptar-se à modalidade e desenvolver estudo autônomo. No entanto, durante o curso observou-se adaptação progressiva com redução destas dificuldades. Outras porém mantiveram-se insolúveis; a saber; administrar a quantidade de leitura, participar das tutorias presenciais e a distância e lidar com a tecnologia pertinente à modalidade.
Estudo qualitativo com alunas de Pedagogia da UERJ buscou relacionar processos de aprendizagem com a metacognição. Foram entrevistadas alunas de turmas que completaram todo o curso na modalidade a distância. As primeiras dificuldades relatadas por estas alunas, tem sua origem nas experiências anteriores ao curso de EAD. Essas experiências em sua maioria realizadas em ambientes presenciais geraram algumas expectativas em relação à forma como deveriam ser as condutas de alunos e professores, como seriam as avaliações e os materiais. Ao mesmo tempo, de acordo com os relatos, pouquíssimos alunos foram em busca de informações pertinentes a natureza do curso. Simultaneamente, nos parece que de pouco serviram as indicações contidas no manual do aluno, uma vez que em nenhum momento foram citadas.
Durante a análise das entrevistas, percebemos que dois tipos de aprendizes enfrentaram menos dificuldades, ou as enfrentaram de uma forma mais consciente. Em primeiro lugar, alunos com alguma experiência anterior em cursos de graduação, por talvez já terem estabelecida a diferença de nível entre o curso profissionalizante e o de graduação. Em segundo lugar aqueles que já tinham um nível de organização mais sólido. Estes aprendizes foram capazes de modificar a partir de experimentação algumas alternativas para as dificuldades identificadas. Eram os aprendizes que identificavam uma dificuldade, examinavam a situação e executavam uma possível solução.
Metacognição é um termo amplo usado para descrever diferentes aspectos do conhecimento que construímos sobre como nós percebemos, recordamos, pensamos e agimos. Uma capacidade de saber sobre o que sabemos. Aqui, é relevante citar que envolve atividades de monitoramento e consequentes controles dos processos cognitivos. Assim, a metacognição faz relação com estratégias utilizadas pelos indivíduos, para monitorar, testar, ordenar e controlar as suas habilidades cognitivas, nos esforços individuais para aprender. Isto é, perceber, no ato mesmo de fazê-lo, em que medida o assunto está sendo corretamente compreendido ou escrito. Na medida em que isto é feito de forma adequada o aprendizado melhora. São pelo menos duas as razões para tal.
Compreender ou produzir um texto é uma tarefa complexa, produto de um processo de pensamento. Neste sentido então, produz-se momento a momento, por interação entre processo e produto, este modificando aquele e vice-versa. Ora, quanto mais se sabe sobre o processo e o produto, maior é a eficiência das modulações recíprocas. Decorre daí que maior o conhecimento metacognitivo, maior é o desempenho nestas tarefas. Isto porque a metacognição pode determinar o modo pelo qual o aprendiz organiza o seu pensamento ou o texto produzido.
Ainda mais, ser capaz de prever o grau de aprendizado de um dado tópico, torna o estudo mais eficaz. Por um lado evita o desperdício de esforço em estudar algo já sabido. Por outro, indica maior investimento naquilo que ainda não se aprendeu. Diminui portanto a possibilidade de prejuízo ao deixar de lado algo importante. Este raciocínio tem suporte empírico. Já se demonstrou ser baixa a capacidade de previsão de estudantes sobre material textual, assim como os benefícios do treinamento metacognitivo. Os mesmos benefícios observam-se em adultos acima dos 65 anos. Também a maneira como se acredita ser o aprendizado na Internet, determina em grande parte como o aluno se comporta no curso.
Assim é que, fundamentados na literatura pertinente e nos achados de nossa linha de pesquisa, sentimo-nos confortáveis em, do mesmo passo ressaltar a importância da metacognição e indicar o seu uso como ferramenta útil para o aprendizado.
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