Copiar ou prestar atenção: Os pressupostos.
No post anterior eu prometi que tendo demonstrado que copiar era tarefa impossível e anotar algo muito mais conveniente, iria hoje mostrar os processos de anotação. E é assim que começamos agora falando dos pressupostos. Sim, porque para anotar você precisa prestar atenção no que está sendo dito. E para prestar atenção…
Pré-requisitos: Visão e Audição
Parece óbvio, não?
Se você entra em sala vendado e de ouvidos tampados, não há como prestar atenção! Neste sentido é inútil repisar no óbvio.
Mas há circunstâncias em que isto faz diferença. A primeira delas é quando existe algum defeito de audição ou visão. Note que às vezes, quando discreto, você nem percebe ou se acostuma a ele.
E nem por isto ele deixa de te prejudicar.
Outro caso é o do seu posicionamento em sala de aula. Você ouve ou vê melhor em função da sua distância do quadro e do professor. Uma janela aberta traz ruídos externos e te convida a devanear. Um quadro liso reflete a luz, dificultando a leitura.
Sua turma é mais ou menos barulhenta. Os seus vizinhos de carteira, são mais ou menos conversadores. O jeito, a voz e a movimentação do professor fazem diferença no quanto você vê e ouve durante a aula. Ventilador, ar condicionado, luzes entre outros, todos são fatores podem ajudar ou dificultar sua audição.
Como e vê, as coisas não são assim tão óbvias. Ok?
Condições para ficar atento
Diferenciar Ver de Observar, Ouvir de Escutar e Mexer de Mover
Habitualmente tratamos Ver-Observar, Ouvir-Escutar , Mexer-Mover como sinônimos. E há casos em que isto é adequado. Mas não aqui. Há significados que o diferenciam muito entre, e é isto o que nos importa aqui.
A grande diferença é a consciência. Ver é perceber pela visão; enxergar. Estamos falando do mero uso de um sentido físico: a visão. Já observar, embora implique no “ver”, é:
- fixar os olhos em;
- considerar (-se) com atenção;
- estudar(-se);
- constatar,
- perceber.
Note que aqui usamos o termo observar para um ver com atenção e intenção. Isto é; um ver consciente do que e para que se está vendo.
O mesmo ocorre com os pares Ouvir- Escutar, Mexer-Mover.
Escutar é atentar para o que ouvimos. Sabemos que estarnos ouvindo algo e dirigimos a nossa atenção para isto. Quando escutamos, mais que ouvir, está em ação o ato consciente de fazer algo com intenção.
Mexer é revolver; agitar o conteúdo de; pôr(-se) em movimento. Não há aqui a obrigatoriedade da intenção. Mover, no entanto, e no sentido que aqui apresentamos, é começar a agir; determinar-se a fazer (algo), levar a (realizar algo); induzir, mobilizar, reagir. Assim, mover é o resultado de uma decisão – consciente e intencional.
E é aí que entra a …
Decisão.
Perceber a contínua alternância entre Ver- Observar, Ouvir-Escutar e Mexer-Mover
Quantas vezes só nos damos conta de que estamos vendo ou ouvindo algo quando alguém nos avisa? Antes disto o som ou a imagem chegavam a nós, mas não a percebíamos.
Mas basta que algo diferente ocorra para que o que “não havia” (por não ser percebido), passe à “haver” (porque agora percebido).
As coisas são assim. Vemos, ouvimos e mexemos muito mais do que percebemos.
Você percebe todas as vezes que pisca os olhos? Como mexe suas pernas e pés ao andar? A menos que esteja atento para isto, provavelmente não.
E isto é normal. Não podemos estar conscientes de tudo o que acontece conosco e ao nosso redor o tempo todo.
Há, conosco e no nosso ambiente, coisas mais importantes que outras. O carro que vem em minha direção é mais importante que o pássaro que voa acima de mim.
Temos o que se chama de visão focal e periférica. E há na estrutura do olho, elementos responsáveis por isto. Na visão focal eu vejo tudo em detalhes, mas para isto só posso abranger um pequeno setor do meu campo visual. Na visão periférica, o campo é amplo, mas o que vejo é pouco definido e sem detalhes. Sem que percebamos alternamos estas duas visões continuamente. O carro que se aproximava desviou-se. O pássaro que voava acima começa a cantar e isto atrai a minha atenção. A visão focal antes dirigida para o carro, agora foca no pássaro. E isto acontece quase que automaticamente.
Usei a visão apenas como um exemplo mais fácil de perceber, mas o mesmo acontece com a audição e o movimento. Variamos continuamente nosso foco de escuta. Nossa movimentação se faz ora automática, ora dirigida a um objetivo específico. E nem sempre pensamos antes de alterar o foco ou a maneira de fazer algo. Há inclusive mecanismos neurais responsáveis por isto. Mas não importa aqui detalhá-los. Importante é que você perceba como presente e natural este processo de contínua alternância entre Ver- Observar, Ouvir-Escutar e Mexer-Mover.
Por isto, para que possa focar no que importa, preciso selecionar. E é aí que entra a …
Escolha …
Decidir para o que atentar
Precisamos selecionar. Dentre as coisas vistas quais as que serão observadas? Dentre as ouvidas quais as que serão escutadas? Dentre as mexidas, quais serão movidas?
A teoria da Gestalt nos mostra que não percebemos as coisas isoladamente, e sim em uma relação de Figura-Fundo. Isto quer dizer que percebemos melhor um objeto claro em fundo escuro. Vendedores de joias costumam mostrar anéis de prata e ouro (a figura) em cima de um veludo preto ou azul escuro (o fundo). Sabem que isto as ressalta mais.
Por isto, para ficar atento a algo é necessário decidir. Não apenas decidir ficar atento; e isto é muito importante: Você precisa escolher para quais objetos, assuntos, conceitos, palavras ou ideias você vai atentar. Precisa, portanto decidir e escolher o que é importante o bastante para sair do fundo e ficar como figura.
Sem isto não há atenção …
Valorizar o mundo Apreendido:
Apreender vem do latim “apprehëndö” significando, agarrar, segurar, prender. Em linguagem militar quer dizer “tomar posse”. E em um nível mais abstrato de significa assimilar mentalmente, Ou seja, é no mundo apreendido que está o conteúdo de sua atenção.
Ora, se o que percebemos é, como diz a Gestalt, um processo de alternância entre a figura e o fundo. E só percebemos a figura porque a fazemos aflorar do fundo; então fica claro que: É do conjunto de coisas que vemos, ouvimos e mexemos para as quais estamos desatentos que partimos para as que estamos atentos, observando e escutando.
Ainda mais; mostramos que esta transformação de figura em fundo e vice-versa é contínua e dependente da consciência. Figura é o que percebemos conscientemente, fundo é o que foge à percepção consciente.
E finalmente, mostramos que o que nos faz trazer algo à consciência é a importância que damos a este algo. A seleção que fazemos então, é simples atentamos para o que importa e deixamos de lado o que não tem valor.
É por isto então que precisamos valorizar o mundo apreendido. Se ele não tem valor, não o trazemos à consciência e, portanto não o agarramos, não o assimilamos mentalmente.
É por isto que para estar atento a um dado conteúdo, é muito importante valorizá-lo. Se estivermos em uma aula que não nos interessa, será difícil prestar atenção. Então, se você decide que precisa aprender aquele conteúdo, trate de buscar nele alguma coisa que o torne importante.
Concluindo
Então vimos hoje que para prestar atenção é necessário:
- Atentar para visão e audição. Tanto os pequenos (e grandes) problemas e também para o ambiente que pode dificultar o que você vê e escuta.
- Diferenciar Ver de Observar, Ouvir de Escutar e Mexer de Mover.
- Perceber a contínua alternância entre Ver- Observar, Ouvir-Escutar e Mexer-Mover.
- Decidir para o que atentar.
- Valorizar o mundo Apreendido.
No próximo post desenvolveremos uma questão algo polêmica. Você sabia que para prestar atenção é importante ficar distraído?
Até lá!
Você tem alguma dúvida ou pergunta?
Deixe sua questão no campo de comentários !