A força da gravidade age sobre tudo que existe na terra, mas não igualmente. 
Ela é em parte anulada por uma força externa centrípeta produzida pela rotação; é também alterada por mudanças na rotação ocasionadas por variações na pressão atmosférica, e é finalmente, temperada pela força do sol e da lua que aumentam e diminuem o nível dos oceanos. 
o resultado é que todo o planeta está constantemente flexionando-se e expandindo-se numa tentativa de se ajustar às mudanças no equilíbrio dessas forças. Essa instabilidade se manifesta nas marés que variam até um palmo de altura a cada doze horas. 
Em parte alguma é esta inquietação mais marcante do que nas tensas fileiras de ilhas do Pacífico, onde os extremos de várias gigantescas peças do quebra-cabeças continental se forçam umas contra as outras para conseguir um encaixe perfeito. 
Na Indonésia o esforço é enorme. A energia das marés se concentra ali até ao ponto em que só pode ser dissipada pelas explosões de calor provenientes da atividade dos vulcões, ou pelos terremotos que sacodem o arquipélago como se fosse um colar de contas periclitantes. 
Nas ilhas, o povo vive como os marinheiros no mar, adaptando-se ao movimento em torno dele, mas sempre com a proximidade de terra firme numa percepção constante que traduz, afinal, o ritmo flutuante do seu próprio ser.

Lyall Watson: Onde vivem as lendas