Persona e Individuação
O homem possui uma faculdade muito valiosa para os propósitos coletivos, mas extremamente nociva para a individuação: sua tendência à imitação. A Psicologia Social não pode prescindir da imitação, pois sem ela seriam simplesmente impossíveis as organizações de massa, o Estado e a ordem social. A base da ordem social não é a lei, mas a imitação, este último conceito abarcando também a sugestionalidade, a sugestão e o contágio mental. Poderemos verificar diariamente como se usa e abusa do mecanismo de imitação, com o intuito de chegar-se a uma diferenciação pessoal: macaqueia-se alguma personalidade eminente, alguma característica ou atividades marcantes, obtendo-se assim uma diferenciação externa, relativamente ao ambiente circundante. Poder-se-ia dizer então, como que por castigo, intensifica-se a semelhança com o espírito do ambiente a ponto de se chegar a uma identificação compulsiva inconsciente com ele. Em geral, esta tentativa adulterada de diferenciação individual se enrijece numa “pose”, e o indivíduo permanece no mesmo nível que antes; mas sua esterelidade ter-se-á intensificado de alguns graus. Para descobrirmos o que é autenticidade individual em nós mesmos, torna-se necessária uma profunda reflexão; a primeira coisa a descobrirmos é quão difícil se mostra a descoberta da própria individualidade.
Carl Gustav Jung