Morte
E pediram ao profeta: Fale-me sobre a Morte. E ele disse: “A coruja, cujos olhos noturnos são cegos durante o dia, não pode revelar o mistério da luz. Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri bem o vosso coração para a vida. Pois a vida e a morte são uma, assim como o rio e o mar são um. Nas profundezas das vossas esperanças e desejos está vosso conhecimento silencioso do além. E, como sementes sonhando embaixo da neve, vosso coração sonha com a primavera. Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade. Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se elevam e expandem e buscam Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então dançareis”. (Khalil Gibran, O Profeta)
Texto extraído do livro Ostra Feliz Não Faz Pérola, de Rubem Alves