Uma fábula budista para tempos de isolamento
– Mestre, como posso enfrentar o isolamento?
– Limpe sua casa. Muito bem. Em todos os cantos. Mesmo aqueles que você nunca teve vontade, coragem e paciência de tocar. Torne sua casa brilhante e cuidada. Remova a poeira, as teias, as impurezas. Até as mais escondidas.
Sua casa representa você mesmo: se você cuida dela, você também cuida de si.
– Mestre, como a pandemia irá se prolongar por mais tempo, como posso viver o isolamento depois de cuidar de mim através da minha casa?
– Conserte o que você pode consertar e elimine o que você não precisa mais. Dedique-se ao remendo, borda os arranques das suas calças, costura bem as bordas desfiadas dos seus vestidos, restaure um móvel, conserte tudo o que vale a pena reparar.
O restante joga fora, com gratidão e com consciência de que seu ciclo terminou.
Arrumar e eliminar fora de você, permite consertar ou eliminar o que está dentro de você.
– Mestre e depois fazer o quê? O que posso fazer se estou sozinho?
– Semeie. Uma semente em um vaso. Cuide de uma planta, regue-a todos os dias, fale com ela, dê um nome, tire as folhas secas e as ervas daninhas que podem sufocá-la e roubar energia vital preciosa.
É uma maneira de cuidar das suas sementes interiores, dos seus desejos, das suas intenções, dos seus ideais.
– Mestre e se o vazio vier me visitar?… Se o medo da doença e da morte chegar?
– Fale com eles. Prepare a mesa para que o vazio, o medo e a doença sentem-se com você. Prepare um “jantar” para eles. E pergunte-lhes: Por que eles chegaram de tão longe até sua casa? Que mensagem querem trazer? O que eles querem te comunicar?
– Mestre, acho que não consigo fazer isso…
– Não é o isolamento o seu problema, mas sim o medo de enfrentá-lo, rodeado por suas sombras e dragões internos. Mas é justamente aqueles que você sempre quis afastar de você que agora te fazem companhia. E, você não pode mais fugir. Então, olhe nos olhos deles, ouça-os e descobrirá que está sendo posto contra a parede.
Como as sementes, que só podem brotar se estiverem sozinhas, você também precisa isolar-se para desabrochar.
Via Cecilia Rangel.