Uma constatação…
A estrada real da terapia, para mim, é aquela que nos leva ao encontro de nós mesmos. Descobrir nossa real identidade não significaria usarmos apenas o pensamento para isso. O certo seria desbloquearmos todas as nossas percepções sensoriais e sensitivas e, através delas, questionarmos nossa identidade. Aí então confrontar as duas identidades: a percebida com a compreendida, a sentida com a pensada. Pelo que estou acostumado a observar em mim mesmo e em meus clientes, quando realizo esse trabalho o confronto sempre termina com as seguintes constatações:
- Eu sempre soube o que realmente sou;
- Mas eu não posso ser o que realmente sou;
- Eu não posso ser o que realmente sou porque eu não quero ser o que realmente sou;
- Eu não quero ser o que realmente sou porque sendo o que realmente sou, eu não realizaria o que eu mesmo esperava de mim;
- Eu não realizaria o que eu mesmo esperava de mim porque eu queria ser o que os outros esperam de mim;
- O que os outros esperam de mim não é realniente o que eu sou;
- Por isso, embora sabendo o que realmente sou, preciso ser o que os outros esperam de mim;
- E aprendi um jeito de viver sendo o que eu realmente sou e, ao mesmo tempo, o que os outros querem que eu seja;
- Sendo assim dividido, acabo não sabendo o que realmente sou entre as pessoas que posso aparentar ser;
- Como prefiro ser o que os outros esperam de mim, o que sou menos é o que realmente sou.
(Roberto Freire: Viva Eu, viva Tu, Viva o rabo do Tatu, Global Ed., 1981)