Um conto acautelador
…Até agora, Patty nunca se dera conta de que o tempo é tão adesivo quanto o amor, e que quanto mais tempo você passa com alguém, mais é provável que se encontre com uma espécie de coisa permanente com que lidar, a que as pessoas se referem despreocupadamente como “amizade”, como se isso esgotasse o assunto, quando a verdade é que mesmo que “seu amigo” faça alguma coisa irritante, ou que você e “seu amigo” concluam que vocês se detestam, ou que “seu amigo” vá embora e vocês percam o endereço um do outro, você ainda tem uma amizade, e embora ela possa mudar de forma, parecer diferente sob diferentes luzes, tornar-se um embaraço, um estorvo ou um sofrimento, ela não pode simplesmente deixar de ter existido, não importa quão profundamente se enterre no passado, de modo que tentativas de negá-la ou destruí-la não só constituirão traições da amizade, mas de maneira mais prática estão fadadas a ser infrutíferas, causando dano apenas para os seres humanos envolvidos e não para aquela selva viscosa (amizade) em que esses seres humanos se enredaram, de modo que se em algum momento no futuro você for querer não ter sido amigo de uma pessoa particular, ou se for querer não ter tido a amizade particular que você e essa pessoa podem ter um com o outro, então não se torne amigo dessa pessoa de maneira alguma, não converse com ela, não chegue perto dela, porque assim que você começar a ver alguma coisa do ponto de vista dessa pessoa (o que acontecerá inevitavelmente assim que você se colocar perto dela) as bases para uma compreensão mútua certamente vão escorregar sob os seus pés…
(Deborah Eisenberg: A cautionary tale)