Tua pobre e velha mamãe
Sabe-se lá porquê, a mulher de Nasrudin aborreceu-se com ele e preparou-lhe uma sopa estupidamente quente, torcendo para que, ao tomá-la, queimasse a boca. Assim que a sopa foi servida, esqueceu-se da trama e tomou ela mesma uma colherada, sem cuidar de esfriá-la. As lágrimas brotaram-lhe dos olhos – mas ainda alimentava a esperança de que Nasrudin viesse a tomar sua colherada daquele caldo fervente.
“Por que você está chorando?”, ele perguntou.
“Minha pobre e velha mamãe, um pouco antes de morrer, tomou uma sopa bem assim. A lembrança fez-me chorar.”
Nasrudin debruçou-se sobre a sopa e atacou-a com um gole caprichado. As lágrimas rolaram-lhe pela face, exatamente como ocorrera a sua mulher.
“Ora, Nasrudin, será que estás chorando?”
“Estou sim”, respondeu, “estou chorando só de pensar que tua pobre e velha mamãe morreu e te deixou viva.”
(Histórias de Narudin, Dervish Ed, 1994)