Sobre os dois tipos de política
Santo Agostinho sugere que há dois tipos de política. A política do “poder do amor”, a que ele deu o nome de Cidade de Deus, e a política do “amor ao poder”, a que ele deu o nome de Cidade dos Homens. Tudo tem a ver com a forma como “poder” e “amor” se relacionam. Pensada utopicamente, a política do “poder do amor” pode ser definida como a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas. Jardinagem é a arte e a técnica que busca estabelecer harmonia entre o homem e a natureza.
Jardins são espaços que o amor modelou no sentido de que sejam belos e seguros. Neles não existe o medo e o corpo experimenta a exuberância dos sentidos. Nos jardins, o homem e a natureza estão reconciliados, são amigos. Nessa política, o poder é ferramenta e instrumento do amor: esse é o sentido da ética. Ética é, sempre, limitação do poder. Pensada realisticamente, a “política do amor ao poder” é o conjunto de artimanhas que tem por objetivo estabelecer o poder de um grupo sobre um determinado território. Nessa política, os sonhos de amor estão subordinados e a serviço do poder. O que significa que nela o poder é o valor supremo e não existe uma ética que o controle.
Rubem Alves, “Ostra feliz não faz pérola”
Nossos políticos precisam saber disso. Todos nós, o povo, precisamos saber disso. E, então, quem sabe, assim mais atentos comecemos a substituir a política do “amor ao poder” pela política do “poder do amor”. TOMARA!