Saber chegar, saber passar, saber partir
A aventura humana tem início com o assombro do nascimento e finda com o ritual de passagem da morte, um amanhecer, de acordo com a feliz expressão de Kubler-Ross, que representam as duas faces do milagre da existência. Como afirma a tradição mística basca, todos chegamos pelo portal de prata do nascimento e partiremos pelo portal de ouro da passagem – já que a morte não existe -, após a travessia de muitos outros portais, que caracterizam o processo evolutivo de nossa jornada. Lembro-me de certa ocasião em que estava sendo entrevistado, e a jornalista indagou-me se eu tinha contato com “pacientes terminais”. Respondi, para a sua surpresa, que eu só tenho contato com terminais! Afinal, quem não é terminal? Todos caminhamos para o fim e este deveria ser um tema fundamental de estudo e consideração.
… a reflexão sobre a finitude não é apenas desconsiderada como também banida e reprimida… Este disfuncional tabu com relação à morte e ao morrer impede a atitude saudável e a conquista de qualidade e dignidade no que deveria ser uma arte de viver o ritual de passagem, com lucidez, aconchego e consciência…
Roberto Crema, Metanóia e Meia-idade, Trevas e Luz – Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro (org.).