Ressignificando a vida
Há mais de um ano a realidade da morte está nos rondando como nunca. E se aproximando cada vez mais. Não são mais os “outros”. Somos todos nós. Do desconhecido ao familiar, passando pelos amigos próximos e distantes.
Diante de tantas perdas, nossos alicerces, antes mais confiáveis, hoje os colocamos em cheque. Como vínhamos construindo as nossas bases? Como estamos cuidando das nossas raízes? O que estamos fazendo para preservar a vida? Não só a minha ou a sua. Mas a vida em unicidade, ampliando a visão para o que percebemos, sentimos e fazemos na vida “com”, “para” e “por meio de”.
A morte sempre fez e continuará fazendo parte da vida. No entanto, hoje, a morte está fazendo parte da morte. Estamos morrendo pela morte da compaixão, da solidariedade, do respeito, do diálogo, das trocas e da simplicidade. Estamos morrendo por deixar matar o sentimento de querer o bem do próximo, por d01eixar matar a capacidade da escuta amorosa que permite refletir, avaliar, reavaliar e mudar. Estamos nos deixando morrer por excesso de “eus” e pela escassez do “nós” e de “vocês”. Matando o outro, nos matamos aos poucos.
Porém, para que todo esse estado de morte se transmute em vida e para que tenhamos consciência do cumprimento do dever de casa, perante a oportunidade de aprendizado durante todo esse tempo de pandemia, será necessário nos colocar diante de nós mesmos, cara a cara, olho no olho, e começarmos a nos questionar: O que está excessivo na nossa vida? O que estamos dispostos a perder em prol de um mundo mais justo? Durante esses quase um ano e meio de restrições, o que realmente nos fez falta e o que verdadeiramente nos preencheu? E, ainda mais importante, rever o nosso verdadeiro significado de liberdade.
E que deixemos a morte livre e íntegra, cumprindo o seu papel natural no seu lugar de origem: na vida.
Maria Teresa Guimarães.