Repetir, repetir – até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo.
M. de Barros
Vivemos a ditadura do diferente, como se o diferente fosse uma natureza. É no ato de repetir que se faz possível o diferente. Repetir não é um problema, um hábito ou um cacoete, desde que seja uma sequência de repetições todas verdadeiras. O vício não é o igual, mas o desejo pelo igual. Fazer igual é o processo do qual nasce o diferente. No teatro, por exemplo, a repetição é o próprio palco capaz de celebrar o inédito e o criativo. E assim é em qualquer arte, como também nas nossas vidas. A rotina é a tela branca, virgem de diverso e de irregular, onde o silêncio do homogêneo, do indiferenciado, é um convite para incursões no que é distinto. A repetição que faz ficar diferente não é circular e não é a reprodução de um mesmo. É, na verdade, uma espiral que dá voltas que não apenas retornam, mas elevam e transformam.
Nilton Bonder.