Que seria uma solidão que não fosse uma grande solidão?
A solidão é “una” e, por natureza, grande, pesada e difícil de agüentar. Quase todos conhecem horas que trocariam de boa vontade pela mais vulgar e medíocre das convivências, pela aparência do menor acordo com qualquer criatura, por mais indigna. Mas talvez essas horas sejam precisamente aquelas em que a solidão aumenta – e o seu desenvolvimento é doloroso como o das crianças, e triste como o prenúncio da primavera. Mas não se importe. Uma só coisa é necessária; a solidão, a grande solidão íntima. Caminhar em si mesmo e, durante horas, não encontrar ninguém – é a isto que é preciso chegar. Estar solitário – como a criança está só quando os adultos se agitam, ocupados com coisas que lhe parecem enormes e importantes pelo simples fato de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem.
Mas, quer se trate de lembranças da sua infância ou da necessidade apaixonada de se realizar, concentre-se sobre tudo o que brotar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que observar ao seu redor. Os seus “acontecimentos” interiores merecem todo o seu afeto.
(Trecho do livro “Cartas a Um Jovem Poeta”, Rainer Maria Rilke. Roma, 23 de dezembro de 1903.)