Ponto cego
Você olha e não vê. Pior, você olha, acredita que é só você ali e, de repente, uma colisão acontece. Você se machuca, se contorce de dor, não entende bem o que está acontecendo e, mesmo não sendo fatal, o acidente aconteceu. É assim quando, ao dirigirmos, não conseguimos enxergar o carro ao lado por ele estar no nosso ponto cego.
Pois é. E assim também é com o ponto cego emocional. Tendemos a acreditar que somos apenas o que vemos com os nossos olhos. Essa visão tão racional, ausente de todos os outros sentidos, é tão limitada de nós mesmos que passamos a vida trombando com nossos achismos mentirosos, sobre tudo e todos mas, principalmente, sobre nós, sem nos darmos conta de que tem muito mais do que imaginamos para além do visível. Porém, nosso ponto cego não nos permite enxergar. Na verdade, muitas vezes nem temos consciência dessa cegueira, imposta pelo medo de encarar o que está ali, ao nosso lado, por dentro e também por fora. Faz doer perceber que o que queremos ver está há anos luz do que desejamos ser e viver. Nosso ponto cego que, na função de ant’olhos, parece nos proteger, na verdade é o grande causador dos sentimentos de insatisfação, frustração e menos valia, que carregamos ao longo da vida.
Esse tal de ponto cego nos tira do caminho da nossa verdade, do auto amor e do respeito pelo ser que somos. Quando ficamos estáticos, aguardando que, por um milagre, as transformações aconteçam, o sentimento de impotência parece tão real que nos tornamos vítimas das circunstâncias e, principalmente, vítimas do lado sombrio do inconsciente. Na sombra, todas as possibilidades existem, mas quando a ela damos as costas, permanecemos identificados com as pedras que só nos fazem tropeçar, cair e estagnar.
Maria Teresa Guimarães.