Plantar ensina
Já ouvi, algumas vezes: “Você tem um verdadeiro jardim aqui, que bênção!”. Amo os vasos que planto e, nesse sentido, sim, eles são uma bênção. Tudo o que nos desperta a capacidade de amar é uma bênção. Sempre me ocorre, porém, que quando se fala em bênção parece algo caído do céu. Meus jardins não existem por acaso ou geração espontânea. É assim que eles nascem, como na foto, em meio a trabalho, esforço, sujeira seguida de horas de limpeza, cuidado e dedicação, em inúmeros sábados, domingos e feriados. Escolho me dedicar a eles por várias horas, em vários dias. É escolha, não sofrimento, que fique claro, mas há esforço envolvido, trabalho braçal, cansaço.
Jardins e vasos existem em função do cuidado diário que recebem. Há vida ali e quem planta vida tem responsabilidades a cumprir. A entrega é retribuída em beleza infinita que alimenta os olhos, a alma e até o corpo. Jardins só existem onde alguém se dedicou a plantá-los, só prosperam onde alguém se dedica à entrega, a mantê-los, alimentando, hidratando, contendo pragas, se espetando, sujando as mãos, revirando a terra.
Assim, também, dentro de nós: só deixam de existir, em nosso interior, as ervas daninhas que cuidamos de conter e extirpar; só existe, em nós, aquilo que plantamos; só prospera e viceja, em nós, aquilo que recebe nutrição e quem escolhe o que nutrir, em si, somos nós mesmos. Escolhas exigem trabalho para que se materializem.
Plantar é escolha de entrega e dedicação, escolha do que se deseja ver brotar e crescer. O direito à escolha é uma bênção, mas as escolhas, em si, essas cabem a cada um.
Mariane Branco Alves