Perfumando Memórias
O perfume para o pensamento. Pode notar. Os passos se tornam mais lentos porque a alma manda os olhos procurarem de onde vem aquela fragrância. Mas os olhos não sabem ver o perfume. Então, o ar que entra na gente, fundo, é que rodopia, dá pistas, busca árvores, procura arbustos, caça o sentido do vento sutil, borrifado com aquele aroma.
(…)
Quando os olhos encontram a fonte mágica de aromas que mora nas flores, os pés têm de andar até ela. É inevitável ser transmutado em beija-flor, em abelha, e como qualquer inseto é preciso mergulhar no miolo da beleza, se empanturrar com tanto mistério, sem nenhuma razão para raciocinar.
Depois ir embora, porque um cheiro só te quer por alguns segundos, tempo de te seduzir e cravar como ferro em brasa mais uma lembrança. Depois te renega e te manda partir. Você vai então, mais leve, sem saber direito o que pensar (o que é isso mesmo?) e harmonizado com aquilo que a natureza fez de melhor: um mundo perfumado por flores para você sofrer menos e viver mais.
Roberto Araújo, Revista Natureza.