O Rei Bahaudin
Bahaudin era um príncipe poderoso, eficiente na administração dos assuntos de Estado e despreocupado com as coisas da mente.
Um dia decidiu que era necessário tomar uma atitude com relação aos errantes e vagabundos que viviam em seus prósperos domínios. Ordenou aos guardas que prendessem todos os vagabundos e andarilhos e que, dentro de um mês a partir daquele dia, os levassem ao pátio do castelo para julgamento.
Um sufi que era membro da corte de Bahaudin pediu permissão para ausentar-se e empreender uma viagem.
Quando chegou o dia determinado todos os vagabundos foram reunidos. Mandaram que se sentassem e que ficassem à espera do rei Bahaudin.
Vendo tanta gente indesejável sentada diante de sua fortaleza, o rei encolerizou-se. Fez um longo discurso e terminou dizendo:
– A corte decreta que todos sejam açoitados como malfeitores e motivo de descrédito para nosso povo.
O cortesão sufi, vestido com seus farrapos, levantou-se no meio dos prisioneiros e falou:
– Ó príncipe da família do Profeta! Se um membro da tua própria corte foi preso por causa de sua roupa, e isso bastou para que o considerassem um vilão, devemos agir com cuidado. Se a roupa é suficiente para saber quem são os malfeitores, então existe o perigo de que o povo adquira esse costume e comece, como tu, a julgar governantes apenas por seus trajes, não por suas qualidades. Que aconteceria então com a instituição de um governo justo?
Depois de ouvir isso Bahaudin renunciou ao trono. Está enterrado próximo a Kabul, no Afeganistão, onde o consideram um dos maiores sufis que existiram. A lição jamais foi esquecida, e todos se ajoelham ao passar por seu túmulo.
(Histórias da Tradição Sufi, Edições Dervish – Instituto Tarika, 1993)