O Quadro horário de estudos: Construindo o seu
Agora está na hora de personalizar tudo o que falamos sobre o Quadro Horário, tanto no que se refere aos pressupostos como aos tipos e objetivos. Em adição, há também outros critérios estes pessoais.
Os Pressupostos
Comece estabelecendo o seu “quadro de pressupostos”. É importante que seja escrito porque você vai voltar a ele várias vêzes durante a construção do quadro horário. Ele tem o seguinte formato:
Note que neste quadro você deve ser específico. Por exemplo, no “O que preciso” não escreva:
“Passar no concurso “X” para aumentar meu salário.”
Isto é claro uma necessidade sua mas não é específico para um quadro horário. Seja mais preciso, escreva:
“Estudar todo dia pelo menos 10 horas por dia”
Agora você foi específico. Definiu (em termos de hora) uma quantidade e uma freqüência. Agora preencha o seu desejo. Posso supor que 70 horas semanais de estudo não seja exatamente o seu sonho de consumo. Então o que você acharia bom? Por exemplo, escreva:
“Estudar 3 horas às segundas e quartas à noite e quatro horas no sábado.”
Agora já se nota uma redução de 60 horas e quatro dias do que você precisa (usando sua razão) em relação ao que você quer (usando a sua emoção). O próximo passo é negociar os dois extremos. E para isto você vai negociar com a realidade. Primeiramente você vaí construir o seu quadro horário preliminar. É como você se lembra, uma tabela com dias e horários. E nela você colocará os seus horários comprometidos. por exemplo higiene pessoal, aulas, trabalho e alimentação. Ah! E não se esqueça do deslocamento. O quadro resultante (hipotético) ficaria assim:
Note que a sua realidade já ocupou cinco dias da semana no horário de 6:00 às 19:00hs. São portanto 65 horas ocupadas com atividades que impedem o estudo individual.
Claro que sua realidade pode ser melhor. No quadro considerei aulas pela manhã e um trabalho de meio expediente à tarde. Pode ser que você não trabalhe, e neste caso ganha mais 20 horas livres. Mas pode ser pior; o trabalho pode ser durante o dia inteiro e eventuais cursos terão que ser feitos à noite e aí o tempo de estudo se reduz as mesmas 20 horas.
De qualquer maneira o raciocínio é o mesmo. Construir o quadro e nele inserir os horários obrigatórios.
Feito isto o que sobra? Dias de semana à noite e finais de semana inteiros. Digamos que você, pobre mortal resolva separar sábado e domingo à noite para o lazer e acordar um pouco mais tarde no sábado e domingo. Assim, o que você pode fazer (equilíbrio entre precisar, querer e poder) é:
“Estudar de segunda à sexta à noite das 20:00 às 24:00hs, sábado das 7:00 às 20:00hs e domingo das 8:00 às 21:00hs.
E portanto o quadro horário ficaria assim:
A Distribuição do Horário – Os Critérios Pessoais:
Agora que você já determinou a quantidade total de horas de estudo, está na hora de decidir a sua distribuição. Para esta distribuição leve em conta os seguintes critérios:
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Importância da disciplina
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Dificuldade da disciplina
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Tipo de disciplina
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O seu estilo pessoal de aprendizagem
Chamo a sua atenção de que nenhum dos critérios acima é absoluto. Da mesma forma que os pressupostos, você deve equilibrá-los. Por exemplo, talvez você dedique pouco tempo a uma disciplina muito importante porque para você ela é muito fácil. Ou o contrário, mais tempo para uma disciplina secundária já que ela é muito difícil para você.
Importância da disciplina
É óbvio que se o seu objetivo é ober um bom resultado, disciplinas mais importantes terão mais tempo de estudo que as menos valiosas. Portanto a decisão é fácil. Mas o que determina o valor de uma disciplina (ou de parte do seu conteúdo)?
Penso que o equilibrio entre pelo menos três fatores. Na situação escolar normal o primeiro fator é o grau de exigência do professor. Em média as provas são fáceis ou difíceis?
E à medida que você se aproxima do vestibular ou já na faculdade, da sua graduação; qual a importância para a profissão escolhida? E este é um segundo fator.
Nos concursos, vestibular inclusive, há determinadas matérias que tem um peso relativo maior do que outras. E como a pontuação final é o somatório ponderado de todas as notas; então, com o perdão do trocadilho, este é mais um fator de peso.
Para facilitar, há um planilha publicada ( http://www.forumconcurseiros.com/forum/showthread.php?t=246172 ) que já tem automatizados alguns cálculos. Por ser automatizada tem a vantagem de exigir menos raciocínio. Por outro lado tem o limite de ser focada em concursos e mais que isto levar em consideração apenas dois dos critérios que eu discuto. O primeiro é o relativo à este tópico; a importância da disciplina. Mas mesmo neste caso a importância é definida apenas pelo seu peso no edital. E o segundo critério é o nível do candidato na disciplina, que é parte do que discutiremos à seguir.
Dificuldade da disciplina
O primeiro fator a tornar difícil uma disciplina já foi discutido acima. Professores ou bancas exigentes tornam tudo mais difícil.
Mas há ainda a quantidade e estrutura da matéria. Obviamente quanto mais conteúdo, mais difícil é dominá-la. Mas perceba que há matérias em que o conteúdo é bem organizado e lógicamente organizado. Outras consistem em um compilação de regras. As primeiras tendem a ser mais fáceis de aprender e memorizar que as segundas (dependendo é claro do seu estilo pessoal de aprendizagem).
Um exemplo em Direito são as matérias de “doutrina” onde os temas são apresentados em um contexto de reflexão e argumentação. Em contraste há as de “código” onde o aluno tem logo de cara uma grande compilação de regras, estando o raciocínio mais oculto, pleo menos em comparação com as anteriores.
Tipo de Disciplina
Aqui não se trata do conteúdo, mas da maneira com que ela é apresentada pelo professor. Por exemplo; se você está aprendendo inglês e o foco é a gramática, um estudo prévio o ajudará na aula. Já se o objetivo é falar, não adianta estudar, você tem que praticar, na aula e fora dela. Por outro lado, se o foco está na produção textual, a sua maneira de estudar é escrever e levar os textos para aula. E isto evidentemente influencia a alocação dos horários de estudo no seu quadro.
Um professor pode organizar sua aula de múltiplas formas, mas para simplificar vou dividi-la em dois tipos; as de preleção e as de debate. Esta divisão é um tanto estereotipada, já que durante a preleção é importante haver participação e durante o debate deve haver algum grau de preleção. A preleção dialogada por exemplo, usa estes dois recursos simultâneamente.
Mas reduzindo à sua forma mais típica nas preleções o professor apresenta a matéria, cabendo ao aluno ficar atento. Aqui, eventuais perguntas são permitidas. Este é talvez o formato mais frequente nos cursos, escolas, conferências e palestras. Já na aula participativa a interação é maior. O professor lança um tema e coordena os debates, cabendo ao aluno trabalhar o assunto por meio de exposição oral, diálogo, questionamento, argumentação e etc.
Fica claro portanto que nas aulas de debate, o seu aprendizado depende da sua participação e esta do que você sabe sobre o tema tratado. A quem ignora o assunto, só resta o silêncio. Por isto se a aula é deste tipo, então é conveniente alocar no seu quadro horário um estudo prévio. No dia anterior à disciplina você estuda o assunto, para que possa desenvolvê-lo durante a aula.
No caso da preleção, o oposto não é necessáriamente verdadeiro. Há que se identificar o tipo de preleção. Simplificando há três tipos de preleção: a “didática”, a panorâmica e a de aprofundamento.
“Didática” é aquela aula em que o professor toma um assunto e o disseca completamente, explicando tudo passo a passo. Uso aqui o termo “didática” entre aspas porque este termo é usado pelo senso comum para descrever este tipo de aula. Didática na realidade é uma área de conhecimento bem mais abrangente do que meramente um formato de preleção.
Na aula panorâmica o professor aborda um tema que pela sua abrangência não pode ser apresentado na sua totalidade quer em uma aula, quer em um curso. Ainda mais, há temas que precisam ser refletidos pelo aluno. Precisam ser processados pelo aluno ao longo de algum tempo. Há outros ainda, que se tomados de imediato pelo aluno tornam-se excessivamente difíceis. Por isto o objetivo de uma aula panorâmica é apresentar o tema na sua totalidade, ressaltando os tópicos principais e a ligação entre as partes.
Finalmente uma aula de aprofundamento toma um tema nos seus detalhes. Procura estabelecer relações com outros temas, explicitar conseqüências obscuras, resolver dififuldades, indicar desdobramentos. Aulas de aprofundamento não são para iniciantes.
Dadas estas características fica clara a alocação de horário de estudo. Se para o debate o estudo é anterior, para preleção varia. Assim uma aula “didática” pressupõe a ignorância do aluno no tema, por isto tudo é explicado. E então cabe ao aluno depois da aula estudar o assunto e eventualmente em aulas posteriores resolver dúvidas. O objetivo neste caso é solidificar o aprendizado.
A aula panorâmica neste aspecto é semelhante. O estudo principal deve ser posterior à aula. Mas neste caso é interessante que no dia anterior ou pouco antes da aula (se você dominar técnicas de leitura eficaz), seja feita uma rápida leitura prévia do tema. O objetivo neste caso é o de aproximar-se do tema de modo a facilitar a apropriação da visão de conjunto que será apresentada pelo professor. Para solidificar o assunto então é que você deverá alocar um período de estudo após a aula.
Finalmente nas aulas de aprofundamento você precisa estudar antes E depois. O “antes” aqui refere-se a períodos de estudo alocados no seu quadro horário antes da aula. Mas também se refere a estudos prévios à aula e mesmo à disciplina atual. Note que eu já disse que aulas de aprofundamento não são para iniciantes. Você não estuda álgebra se não souber aritmética, cardiologia se desconhecer anatomia e fisiologia. Neste sentido uma aula (ou curso) de aprofundamento exige pré-requisitos. Por isto antes de se dedicar a uma delas verifique se você os possui.
Então nas aulas de aprofundamento você deve estudar antes para apropriar-se do tema e identificar pontos obscuros. Cabe então alocar periodos de estudo antes da aula. Mas deve também estudar depois para solidificar o aprendizado e também refletir sobre o assunto.
Seu estilo pessoal de aprendizagem
Estilo pessoal de aprendizagem refere-se à sua maneira individual de aprender, às suas preferências de estudo. Leva em conta seu tipo de inteligência, estilo de raciocínio entre outros. De forma mais precisa demanda estudo especialzado. No entanto por agora e para simplificar, há aspectos que você mesmo pode saber.
Por exemplo; você estuda melhor pela manhã ou à noite? Tem mais facilidade com matérias exatas ou humanas? Consegue estudar bem por longos períodos ou precisa de interrupções frequentes? Seu ambiente de estudo ideal é retirado e silencioso ou talvez com algum movimento de pessoas ou sons? Precisa alimentar-se para estudar ou o “lanchinho” o prejudica? Como se sente melhor; “enfrentando” aquela matéria difícil para então desfrutar daquela que te agrada? Ou precisa primeiro “presentear-se” com a fácil para ir “esquentando” e só então dedicar-se à que tem assusta?
Isto tudo importa na hora de escolher o horário. Estudar pode ser muito prazeroso, mas exige sempre um certo esforço e dedicação. Então, a melhor maneira de acertar é aplainar o caminho escolhendo o trajeto de maior probabilidade de sucesso. E isto se faz respeitando seu estilo pessoal de aprendizagem.
Este é um aspecto que muito, mas muito raramente vejo discutido. Particularmente em recomendações para candidatos a concursos públicos. Todos são tratados como se fossem iguais e devessem se submeter aos editais e horários de cursinhos.
Não me entendam mal, é claro que editais e “cursinhos” são importantes. É inteligente ver o que deu certo para outros. No entanto mais importante que isto é você. Não estou dizendo que você deve sempre agir como bem entende. Pelo contrário, leia o que falei em post anterior sobre o equilíbrio entre o precisar o querer e o poder.
Você deve sempre personalizar seu estudo e também o seu quadro horário. Há em alguns textos alguma referência à personalização. Mas na pesquisa que fiz para construir este texto há apenas a citação de que os modelos apresentados funcionaram para os seus construtores, fazendo-se a ressalva de que pode ser diferente para o leitor.
Mas como personalizar? Mostrar como fazê-lo tem sido o objetivo deste e dos posts anteriores ( “Pressupostos” e “Tipos e Objetivos”).
Finalizando:
Bem como vimos, o quadro horário tem alguns aspectos constantes como o formato, determinação de quantidade de estudo e tempo dedicado à outras atividades obrigatórias, etc. E tem também outros aspectos pessoais, tratados em detalhe neste texto.
Mas se você parar para pensar, até o momento tratei o quadro horário como algo estático. Uma vez construido está gravado em pedra para todo o sempre. Isto não é verdade. Ele é tão fixo como a vida. Novo edital, uma doença, imprevistos, mudanças de professores ou disciplinas, nova bilbiografia a ser explorada, etc, etc, etc. Quantas e com quão regularmente isto ocorre em nossas vidas. Mais que isto, quantas mudanças ocorrem à nossa revelia e que não podemos evitar?
Por conseqüência o seu quadro horário deve mudar. Sempre respeitando os princípios aqui tratados, mas também sempre adequando-se à vida sempre em mudança.
Mas como lidar com tudo isto sem ter que dedicar seu tempo precioso para mudanças constantes no quadro? No próximo post tratarei disto, apresentando um método proposto por Cal Newport, especialista em estudos de alto nível. É um método que venho usando com muito bons resultados faz já algum tempo.
Até lá!
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