O olhar do terapeuta
Existem duas formas de observarmos uma flor-de-lótus: Podemos olhá-la e dizer que é apenas lama, o resultado de uma interação de vida que existe dentro dessa lama. Ou, ao contrário, podemos nos deslumbrar diante do fato de que daquela lama pode surgir uma maravilha como uma flor-de-lótus.
Também existem duas maneiras de se olhar um ser humano: ele pode ser visto como um ser que apenas encaminha-se para a morte ou podemos ver esse ser humano, mesmo traumatizado, fragilizado e ferido, como sendo o espaço de onde emerge a consciência. Por meio deste ser que sofreu e viveu tanta dificuldade pode surgir um ser de sabedoria e serenidade.
O terapeuta deve observar sempre a flor que está brotando. Qualquer que seja o degrau que esteja quebrado, ou o nó na memória que impede o outro de avançar, o terapeuta acredita na força de Vida que pode ajudá-lo a atravessar essas dificuldades. Cuidar de alguém é cuidar daquilo que está saudável nele, porque é a partir desse estado de saúde, de santidade, que a cura pode chegar.
No caso de uma pessoa cuja escada tenha um degrau quebrado, trata-se de ajudá-la a reencontrar esse lugar em que ela ficou parada, onde um grande medo a fixou. Se acreditarmos na força da Vida, ela será capaz de desfazer esse nó.
Jean-Yves Leloup.