Isto e aquilo
Naquela carta, afirmei que havia uma divisão básica no estilo dos homens: aqueles que desejam a paz de espírito e a felicidade têm que acreditar e abraçar a fé, enquanto aqueles que desejam perseguir a verdade devem renunciar à paz de espírito e devotar sua vida à investigação. Eu sabia disso aos 21, há meia vida. É tempo de você aprendê-lo: deve ser seu ponto de partida básico. Você deve escolher entre o conforto e a verdadeira investigação! Caso escolha a ciência, caso opte por ser libertado das cadeias sedativas do sobrenatural, caso, conforme alega, escolha evitar a fé e abraçar o ateísmo, então não poderá ao mesmo tempo ansiar pelos pequenos confortos do crente!
Se você matar Deus, terá também que deixar o abrigo do templo.
(Yalon, I.D.: Quando Nietzsche chorou)
Aqui percebemos a diferença entre religião e filosofia. As grandes religiões, assim como as grandes filosofias, são doutrinas da salvação, que no sentido etimológico significa “se salvar de medos”. As grandes religiões são doutrinas de salvação pela fé, pela crença em Deus. enquanto as grandes filosofias são doutrinas de salvação por si mesmas e pela razão.
(Luc Ferry)
Em suas Memórias, Jung fala pela primeira e única vez de Deus e de suas próprias experiências religiosas. Recordando sua rebelião juvenil contra a Igreja, ele me disse certa vez: Naquele tempo compreendi que Deus – pelo menos para mim – era uma das experiências mais imediatas. Em suas obras científicas Jung nunca fala de Deus, mas da imagem de Deus na alma humana.. Isto não constitui uma contradição: por um lado, sua afirmação é subjetiva, baseada numa vivência e, por outro, é uma constatação científica e objetiva. No primeiro caso é o homem religioso que fala, o homem cujos pensamentos são influenciados por sentimentos poderosos e apaixonados, por intuicões e experiências interiores e exteriores de uma vida longa… e fecunda. No segundo, é o cientista que toma a palavra, e suas afirmações não ultrapassam os limites do conhecimento cientifico, restríngindo-se conscientemente a fatos demonstráveis. Homem de ciência, Jung era empírico. Entretanto, neste livro de Memórias, quando fala de suas experiências e sentimentos religiosos, conta com a boa vontade do leitor a fim de que este possa segui-lo através de caminhos semelhantes, ou que traga dentro da alma uma imagem de Deus de traços análogos ou então que reconheça como válidas por si mesmas as afirmações subjetivas de Jung.
(Aniela Jaffé)
Já sofri demasiadameme a incompreensão e o isolamento a que se é relegado quando se tenta dizer aquilo que os homens não compreendem.
(Carl Gustav Jung)