Cédric Villani fala sobre Educação Matemática
Saiu no Globo de 14/08/2012. Li, gostei e trago para vocês um extrato da entrevista. Há um grifo meu em determinados trechos, que considero mais relevantes. Quem sabe você concorda comigo…
A entrevista:
Um dos maiores gênios da matemática, o francês Cédric Villani foge do estereótipo do professor sisudo. Visual extravagante, que lhe rendeu a alcunha de "Lady Gaga da matemática", o ganhador da Medalha Fields de 2010 – o equivalente ao Prêmio Nobel de sua área – está no Rio para fazer uma conferência no Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Em entrevista, ele se disse encantado com a cidade.
• O senhor também mencionou a necessidade de atrair os jovens para a matemática. Com fazer isso diante do fato de a maioria dos estudantes, e das pessoas em geral, ter "medo" de matemática e dos estudos de ciências em geral?
Este é realmente um dos maiores perigos que devemos temer. Primeiro temos que reconhecer que as pessoas aprendem e usam a matemática há milhares de anos, então temos várias ferramentas pedagógicas que são boas e funcionam. São muitos os sistemas usados e hoje temos a possibilidade de compará-los e experimentar. Outra coisa que as pessoas tendem a esquecer é que na pedagogia o melhor método costuma ser aquele que é o preferido do professor; o que ele ou ela desenvolveram por si próprios e sabem por experiência própria que seu sistema funciona. No fim, o que importa é a relação entre os alunos e o professor. Os professores mais motivadores que encontrei na escola eram os que tinham seu próprio estilo, seus próprios exercícios e que davam mais atenção para os alunos que se mostravam mais interessados. Eram os que realmente gostavam da matéria que ensinavam, e isso é motivador. E na matemática, embora alguns princípios sejam importantes, deve-se ter paciência. A matemática não é algo natural para nós. Nossa maneira de pensar é baseada em emoções, sentimentos na identidade visual e no contato com as pessoas, e não na lógica matemática. Esta lógica foi desenvolvida por várias civilizações ao longo do tempo e chegou a nós com esforço. Temos que lembrar disso e que leva tempo para entrarmos no espírito da matemática. E o mais importante na educação matemática não é o
conhecimento que você adquire, mas o hábito, a maneira de pensar que você aprende, qual a diferença entre um postulado e um teorema, a racionalização, o que é uma prova, como resolver um problema e as várias maneiras de fazê-lo, Isso requer treinamento e é o que de fato é importante. Como adulto, você pode muito bem viver sem saber o que é o Teorema de Pitágoras. Você pode esquecer isso ao longo do caminho, mas sempre será bom ter esse treinamento, essa capacidade de pensar logicamente, de abordar um problema de forma racional e não cometer erros .
• Então a questão é mais forma do que conteúdo?
É como um jogo em que você perde de um lado e ganha do outro. É verdade que a matemática é abstrata por definição. Ela é uma representação abstrata do mundo. Mas por isso mesmo ela é muito mais simples do que o complexo mundo real em que vivemos. Diariamente fazemos cálculos geométricos, usamos a teoria dos jogos e tomamos decisões baseadas em princípios matemáticos, mesmo que inconscientemente. Na vida prática é muito útil saber sobre probabilidades e estatística, e tudo isso é muito mais complicado do que a matemática que aprendemos na escola. Então, a matemática está muito mais próxima de nós do que imaginamos. Mostrar isso para as pessoas, que elas estão usando a matemática toda hora, é uma boa forma de quebrar esta barreira que elas têm.
• E quanto às aplicações práticas de estudos de matemática avançada como os que o senhor faz! Pode-se também destacar isso?
Primeiro, nunca é demais destacar que a ciência é feita por cientistas, por pessoas. Segundo, que ela está em todo lugar, no nosso ambiente. Mesmo quem diz não se interessar ou ver razão em investir nas pesquisas em matemática e ciência está interessado no seu telefone celular, no seu GPS. Atrás de tudo que você usa e está acostumado há um conceito científico e matemático, e atrás deste conceito está um ser humano, com sua própria história. Não há uma dicotomia entre ciências humanas e ciências exatas. Tudo é feito por pessoas e isso pode ser uma aventura. Na ciência ainda há muitos mistérios a serem explorados, muitos sonhos a serem sonhados. Quanto às suas aplicações práticas, é uma questão de escala de tempo. Pode demorar 100 anos, 150 anos até que uma descoberta encontre uma aplicação prática, ou seja uma descoberta que leva a uma outra, e a outra, e a outra até que isso aconteça.
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