A teimosia da esperança
Hoje não há razões para otimismo.
Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo.
Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.
Camus sabia o que era esperança.
São suas as palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível…”
Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina.
O otimismo tem suas raízes no tempo.
A esperança tem suas raízes na eternidade.
O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre.
A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje, é tudo o que temos no século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões.
Rubem Alves, 1933-2014.