A importância e o limite do pensamento para a vida
Quem trabalha em teatro sabe que existe uma duração certa para o ensaio de uma peça, um tempo que não pode ser pré-determinado mas que se impõe no decorrer dos preparativos. Se ensaiamos de menos o espetáculo não se realiza plenamente. Se ensaiamos demais, diz-se em teatro que o espetáculo “apodrece”: Ensaiar para não estrear não seria teatro, mas qualquer coisa masturbatória, doente, absurda, frustrante, como as doenças mentais…
E estou certo de que a doença mental tem muito a ver com isso: há pessoas que passam a vida “montando” um espetáculo que apodrece por excesso de ensaio – por pensarem demais ou acreditarem que o pensamento é e vale a ação. Levando a comparação mais longe e lembrando o que acontece também com os espetáculos teatrais, sabemos que tudo o que foi ensaiado é o que acontece no dia da estréia, mas não é tudo. Só a presença e a resposta do espectador-crítico é que amadurece deftnitivamente e dá signiftcação vital ao que se propôs com o espetáculo ensaiado.
(Roberto Freire: Viva Eu, viva Tu, Viva o rabo do Tatu, Global Ed., 1981)