A angústia de cada dia
Angústia é o sentimento de opressão indefinida. É sinônimo de medo. Mas, enquanto o medo tem sua razão de ser, a angústia não parece ter uma razão explícita…
Como conviver com essa sensação que traz tamanho sofrimento sem sofrer tanto?…
Que alternativa ela nos coloca?…
Infelizmente não há saída nem pela direita nem pela esquerda…
Morrer, perecer, sofrer são momentos importantes da vida. Melhor viver sem eles, pensam os que combatem a angústia. Travam uma espécie de combate do otimismo contra o pessimismo, como se essa oposição tivesse necessariamente que ter um vencedor…
A angústia nossa de cada dia cresce como grama que é preciso aparar, toma-se gigantesca e pode até nos engolir de vez, deixar a casa debaixo do matagal. Debaixo da grama selvagem, com paciência, um jardineiro, no entanto, constrói seu jardim…
Angústia é o nome de tudo aquilo que não sabemos, tanto o que já foi quanto o que existe hoje e o que há de vir. É o não-saber que está na raiz desse medo flutuante que a caracteriza…
Ora, a etimologia latina diz que angustus é um lugar estreito. Com base nessa definição própria à palavra, pode¬mos pensar que a angústia não é outra coisa que aquilo que define uma espécie de nascimento. Nascimento como passagem de um lugar a outro e que, por isso mesmo, não é diferente da morte, ela mesma passagem.
Foi Soren Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século 19, quem afirmou o caráter de alternativa da angústia. Alternativa é sempre a escolha. A angústia é, portanto, o conflito individual diante da própria liberdade de que cada um deve fazer uso. A angústia poderia ser a liberdade da liberdade. Neste caso, é ser livre o que perturba…
Só quem não tem liberdade não tem angústia. Ou quem, pela fé na liberdade, aprendeu a viver…
0 angustiado é aquele que permanecerá a vida toda na alternativa, na escolha, mas sem escolher. Por que não se decide? Porque sair dela pode causar ainda mais sofrimento…
Isso tudo pode parecer muito poético, muito abstrato, mas talvez seja o único jeito de conviver com a angústia sem precisar fugir dela como de um monstro devorador. Saber que ela é como o ar que se respira na existência, algo sem o que é impossível viver, mesmo que às vezes pareça causar sufoco, é justamente o que nos faz respirar.
(Marcia Tiburi: Extrato do texto de mesmo nome publicado em Vida Simples, setembro de 2008)