A Beleza do que é imperfeito
Há qualquer coisa de profundamente humano, naquilo que não está certo, nem simétrico, nem concluído. Talvez porque nós, também, não estamos.
A beleza do que é imperfeito está nos sorrisos sem jeito, nas palavras que faltaram dizer, nos silêncios que ficaram no meio de uma frase. Está nas cicatrizes – não as escondidas, mas as que já não nos envergonham. Está na chávena lascada que ainda usamos, porque era da avó, no casaco velho que já não aquece, mas ainda abraça.
A perfeição é fria. Não tem história. A imperfeição, essa, guarda tudo: as quedas, os risos nervosos, os erros de cálculo e os gestos impulsivos. É no improviso que nasce a ternura. É na falha que se vê quem fica.
O mundo tenta afiar-nos, polir-nos, tornar-nos impecáveis. Mas eu prefiro os que tropeçam, os que hesitam antes de falar, os que choram com vergonha e depois riem como se o mundo fosse novo. Prefiro as pessoas que admitem não saber, as que pedem desculpa devagar, as que amam mal, mas amam muito.
Há beleza num banco partido de jardim onde alguém escreveu “volto já”. Há beleza num amor que não chegou a ser, mas ainda mora num olhar.
A beleza do que é imperfeito não se explica, sente-se. Como um piano desafinado que, mesmo assim, nos toca certo, o coração.
Helena Sacadura Cabral, Mãos Pequenas, Coração Grande.
Via Mala d’estórias.