Enquanto uns comemoram: um chamado para a unidade
Enquanto uns celebram a Paixão de Cristo, outros silenciam a alma em banhos de folhas, sob o canto sutil de Oxalá. Enquanto uns vestem branco em reverência, outros entoam mantras ou contemplam o vazio como quem escuta o universo. E há os que não celebram, não seguem, não dizem nada. Mas sentem. Sentem porque algo invisível pulsa em todos: a busca pelo que é maior.
Não é sobre a Sexta-feira Santa. Não é sobre a Páscoa ou o feriado. É sobre um instante coletivo em que o mundo, sem combinar, abranda o passo. Em que mesmo quem não crê sente o ar mais denso, o tempo mais lento. É sobre o sagrado que se insinua nas frestas do cotidiano. Sobre o humano que, por um momento, lembra que também é luz.
Jesus, Oxalá, Krishna, Buda, Zaratustra. Seres que atravessaram a carne para ensinar o que a alma já sabia: que não viemos dominar, mas doar; não viemos julgar, mas acolher; não viemos possuir, mas pertencer. Nenhum deles pediu adoração. Todos ensinaram o amor.
E o amor, quando é verdadeiro, não reconhece fronteiras.
A ciência, quando despida de vaidade, encontra Deus na matemática das galáxias. A religião, quando livre do ego, encontra o Universo no coração do homem. A astrologia, a numerologia, a física quântica, o DNA, a sabedoria das matas e dos astros… Tudo é música tocada por instrumentos diferentes.
As religiões são línguas. O Amor é o idioma.
Enquanto uns jejuam, outros dançam. Enquanto uns acendem velas, outros apenas respiram em gratidão. E os que não fazem nada também são parte. Porque tudo é prece quando feito com verdade.
O Nome de Deus muda, mas a Frequência é a mesma. Olorum, YHWH, Ain Soph, Criador, Fonte, Tudo-e-Nada. Não importa como se chama. Importa que vibra em cada átomo de vida.
Portanto, que esse dia não seja sobre o que se deve ou não fazer. Que seja sobre o que pode ser sentido, com leveza. Que a Páscoa não seja um rito obrigatório, mas um convite para renascer em silêncio. Que a cruz, o ovo, o banho ou o altar não sejam fins em si, mas portais para dentro.
Porque dentro é onde tudo se encontra.
Se existe um corpo maior, somos suas células. Se existe um espírito coletivo, somos seus sussurros. E se existe um Deus único, como tantas escrituras afirmam, então não há outro caminho senão o respeito.
Que cada um honre sua verdade. Que nenhuma verdade precise negar a do outro.
E que o Amor, esse sim, seja celebrado como única religião comum. Todos os dias. Em todos os corações.
Autor desconhecido.