Medo como doença
Várias vezes já falamos e nunca é demais voltar a repetir: o homem está doente de medo e as consequências dessa enfermidade se manifestam em novos e piores distúrbios que aparecem a todo momento
O medo é uma terrível garra que se fecha sobre os pensamentos, os sentimentos e a vontade, tirando do ser humano toda a possibilidade de ação inteligente. A atividade vital se reduz a defender-se, a escapar de tudo, a evitar as responsabilidades, a evadir-se de decisões, a esconder-se para “não chamar a atenção”; o cinza e opaco é hoje o mais apreciado e essas são precisamente as características do medo que também é opaco e cinza.
Aparece nesta circunstância uma modalidade especial: a do “anti”, aquele que se opõe a todas as coisas enquanto estas coisas significam o menor esforço pessoal próprio. Todas as coisas são “más”, pois os defeitos são os primeiros que se destacam, enquanto que o medo crescente faz perder toda a oportunidade de reconhecer virtudes.
Estar contra tudo – que é o mesmo que não estar a favor de nada – é uma nova expressão patológica derivada do medo. A única coisa que se sustenta como boa é o benefício próprio, a própria sobrevivência ainda que, para que se faça, há que destruir todos os demais que é a continuação lógica de estar contra todos. Se trata, como é evidente, de uma aberrante forma de egoísmo, no qual o “eu” se auto afirma na medida que há um desprezo por todo o circundante. Não se trata de elevar-se cada um em seu próprio esforço, senão em denegrir o que está ao redor para que destaque a própria estatura. Não se trata de superar os males que afetam o mundo, mas que, por temor, se negam e denigrem ao mesmo tempo que se esconde a cabeça sob as asas da inação.
Delia Steinberg Guzman, presidente honorária de Nova Acrópole.