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Onde está a felicidade?
Ninguém sabe onde ela para ou onde se pode encontrar. Há quem diga que não está em nenhum lugar e que simplesmente acontece. E, no entanto, em algum sítio há de estar. Não lhes parece?
Às vezes está tão perto, tão à vista, que nos passa despercebida, e outras tão distante, tão escondida nesse tal lugar, que uma vida não chega para lá chegar.
Há os que pensam que só a encontramos se não a procurarmos. Nem pensarmos nisso. E os que estão convencidos de que é preciso procurá-la sem cessar.
Por isso, ouçam agora a história do Sr. Pascoal, que vivia desde menino numa aldeia pequenina, à beira-mar. Era um belo sítio para se morar, já se vê, e ele sentia-se bem, mas faltava-lhe qualquer coisa, não sabia o quê. E essa qualquer coisa, achava ele, era a felicidade.
Fez então as malas e saiu de casa à procura dela. Foi de aldeia em aldeia, de vila em vila, de cidade em cidade, e encontrou tudo o que procurava, tudo menos a felicidade.
“Isto é bonito” dizia ele para ninguém. “Mas ainda não é aqui que me sinto bem”.
Decidiu então partir para mais longe. E foi assim que deu várias voltas ao mundo. E viu coisas de pasmar, a felicidade é que não.
Mesmo assim, continuou a procurá-la, viajando sem parar, sim, porque em algum sítio ela havia de estar.
E estaria? Já vamos saber. O tempo, como sabem, passa a correr e, um dia, o Sr. Pascoal percebeu que estava a envelhecer. Tinha os cabelos brancos, as pernas fracas, os ossos doridos, a vista cansada. Andara muito nesse dia e parou em frente de uma velha casa abandonada.
Os vidros das janelas estavam partidos, a poeira invadia quartos e salas, o mato cobria o jardim.
Ele olhou aquilo e pensou assim:
“Nesta casa, desprezada e sem dono, vou construir a minha felicidade.”
E consertou o telhado, pôs vidros nas janelas, pintou as paredes, cuidou do jardim.
“Agora sim”, pensou ele por fim. “Aqui está um bom sítio para se morar”
Sentou-se então num sofá da sala, em frente à lareira, a descansar.
“Que bem que eu me sinto” disse para si.
E percebeu então que aquela estranha sensação de bem-estar era esse não sei quê que ele tanto procurara: a felicidade. Estava ali.
“Finalmente encontrei-a “, gritou o Sr. Pascoal, muito entusiasmado.
Estava tão contente que se pôs aos saltos e veio para a rua festejar, esquecido já da sua idade. Reparou então que estava na aldeia de onde partira há muitos anos e que aquela casa era a sua própria casa, a mesma que ele abandonara para procurar a felicidade.
Álvaro Magalhães. Onde está a felicidade.