Dois tempos na mesma sinfonia
Às vezes é uma árvore que cai. É um susto, um estrondo que avisa que um ciclo se encerrou. As mudinhas que dormiam – algumas por anos com as mesmas humildes folhas – acordam com o sol na cara, se apressam a trabalhar, a crescer. O que parecia que assim permaneceria para sempre, desperta. Os bichinhos vêm conferir o que está acontecendo, os passarinhos bordam novos ninhos.
A natureza é assim, nunca deixa as coisas iguais por muito tempo. É a orquídea que cresce no tronco, é a semente que o vento leva, é a formiga cortadeira atrás de comida, é a luta da árvore com o parasita, é um mundo em convulsão.
No seu jardim não é diferente. Você pode até achar que tudo está parado, mas é o tempo da natureza que é outro. O que para nós se passa em minutos, para ela é uma questão de anos. O que fazemos em horas, ela faz em décadas. É por esse motivo que a gente precisa, por vezes, apressar o jardim.
Para os humanos ansiosos, bastam umas olhadas e logo tudo se torna banal, costumeiro, cotidiano. Desde as cavernas é fundamental ativar a adrenalina para lutar ou correr – conforme a valentia de cada um. É por esta ânsia que todos os apaixonados por jardim estão sempre agregando novos canteiros, plantas de destaque, caminhos, arquinhos, cores e texturas.
Árvores caem, mas demoram uma longa vida no vagaroso tempo da natureza. O seu encanto não pode esperar tudo isso. Então, jardinistas incorporam artistas para pintar com flores, escrever com texturas, exclamar com perfumes, entender que a vida e o tempo passam diferente para cada um dos seres deste planeta. Numa floresta ou no seu jardim.
Roberto Araújo