Alma florida
Vida é uma energia que põe um tipo de flor dentro de cada alma humana. Há aquela que todos os dias solta suas flores-sorrisos, flores-gentilezas, e encanta a todos que estão à sua volta, como o hibisco que jamais se cansa de produzir floradas. Há outra, mais discreta, tímida como a orquídea, que quando floresce uma vez por ano cria um encantamento extravagante.
Há a alma espinhada, sofrida, cacto que se isola, fala pouco e que quando floresce expressa as mais secretas emoções que escondia. Existe a alma onde germinam angustiadas flores-do-mal que,
contraditórias, fazem brotar no espírito dos poetas imagens de um metafórico balé onde dançam buquês de sentimentos, dores e glórias. É preciso muito respeito com as almas com flores-heroínas, aquelas que, como a palmeira talipot, prepara por 40 anos a única florada que dá na Vida, à imagem das almas que num sopro de dente-de-leão se sacrificam por uma causa nobre.
A vida, que é única, dá a cada alma uma flor e uma cor. Cachos amarelos de emoções, pequeninas rosas vermelhas de compaixão, discretas pétalas azuis de espiritualidade, floradas envolventes de amores. As vezes, sem que ninguém perceba, as flores da alma de cada um trocam sementes de ideias, mudas de sentimentos, fragrâncias de alegrias. É um mistério que pode usar palavras, olhares, toques, um esbarrão na rua, um enlace das mãos no cinema… nunca dá para descobrir direito como as flores das almas se comunicam.
Mas a Vida, que é muito cheia de surpresas, todo ano faz uma brincadeira. Mistura as flores, sem que dê para descobrir aquelas que florescem no jardim e aquelas que germinam no sentimento de cada pessoa. É quando todas as almas, das pessoas e das flores, se embriagam numa grande festa generosamente regada com a água e com o sol da primavera.
Roberto Araújo, Editorial, Revista Natureza, Ed 356, Ano 31, Setembro de 2017