Liberdade e Responsabilidade
A liberdade, como um dado, parece a própria antítese da morte. Embora tenhamos receio da morte, em geral consideramos a liberdade como inequivocamente positiva. A história da civilização ocidental não foi pontuada por anseios de liberdade, inclusive dirigida por eles? No entanto, a liberdade, sob uma perspectiva existencial, está vinculada à angústia ao afirmar que, contrariamente à experiência cotidiana, não entramos para um universo bem-estruturado com um grandioso desígnio eterno para finalmente deixarmos. A liberdade significa que a pessoa é responsável por suas próprias escolhas, ações e condição de vida.
Embora a palavra responsável possa ser utilizada de várias maneiras, prefiro a definição de Sartre: ser responsável é “ser o autor de”, cada um de nós sendo assim o autor de seu próprio plano de vida. Nós somos livres para sermos qualquer coisa, exceto não livres – nós estamos, diria Sartre, condenados à liberdade. Na verdade, alguns filósofos imaginam muito mais: que a arquitetura da mente humana torna cada um de nós responsável pela estrutura da realidade externa, pela própria forma do espaço e tempo. É aqui, na ideia da autoconstrução, que reside a angústia: somos seres que desejam estrutura, e ficamos amedrontados ante um conceito de liberdade que afirma que embaixo de nós não existe nada, apenas pura falta de fundamento.
(Irvin D. Yalom, O Carrasco do Amor)