Comunhão
O homem que pensa é uma dádiva,
é como o pão,
é como os rios.
O homem que pensa é franco e generoso,
é pura chuva,
tem o coração
voltado para os outros.
O homem que pensa é fonte e hóstia,
é musgo e noite,
é cor de sangue,
cor de Sol a pino.
O homem que pensa é justo e solidário:
o pensamento é trigo
a partilhar na mesa dos convivas;
o pensamento não é fruto, é todo o horto das nogueiras.
O pensamento é comunhão: bebei do vinho,
que esse é o vinho do Homem que não morre;
o pensamento é comunhão
e se oferece para que o homem seja mais humano
e viva mais humanamente:
a Lua não é Lua quando não é vista,
porém é Lua, e Lua mais terrena e mais perfeita
quando fulgura, cheia, em pleno céu,
a dar-se toda no ato de brilhar,
a desfazer-se em luz por sobre todos.
(RAMOS. Péricles Eugênio da Silva. Poesia quase completa. Rio de Janeiro: J. Olympio. 1972. p. 137-8.)