Mesmo os analistas não são absolutamente perfeitos, e pode acontecer que, ocasionalmente, sejam inconscientes em certos aspectos. Por isso, há muito tempo, estipulei que os próprios analistas deveriam ser analisados; deveriam ter um padre confessor ou uma madre confessora. Até o Papa, apesar de toda a sua infalibilidade, tem que se confessar regularmente, e não a um monsenhor ou cardeal, mas a um padre comum. Se o analista não se mantiver em contato com seu inconsciente objetivamente, não há garantia alguma de que o paciente não cairá no inconsciente do analista.
C. G. Jung, CW 18, Parágrafo 323.
Brinca enquanto souberes!
Tudo o que é bom e belo
Se desaprende…
A vida compra e vende
A perdição.
Alheado e feliz,
Brinca no mundo da imaginação,
Que nenhum outro mundo contradiz!
Brinca instintivamente
Como um bicho!
Fura os olhos do tempo,
E à volta do seu pasmo alvar
De cabra-cega tonta,
A saltar e a correr,
Desafronta
O adulto que hás-de ser!
Miguel Torga, Diário IX – via Mala d’estórias
Dai-me, Senhor, uma boa digestão,
mas também qualquer coisa para digerir.
Concede-me a saúde do corpo e o necessário
bom humor para mantê-la.
Dai-me, Senhor, uma alma simples,
que saiba aproveitar tudo o que é bom
e não se assuste demasiado perante o mal,
mas encontre maneira de recolocar
as coisas no lugar devido.
Dai-me uma alma que não fique refém do tédio
nem de resmungos, impaciências ou lamentações,
e não permitais que me atormente
para lá do razoável
com essa coisa turbulenta chamada “eu”.
Dai-me, Senhor, um sentido de humor apurado
e a capacidade de receber o que aí vem a sorrir,
vivendo o que me cabe com alegria
e partilhando-a sem custos acrescidos
com os outros. Amém.
Oração escrita por São Tomás More (1478-1535, Inglaterra) e que era rezada diariamente pelo Papa Francisco, Via Biblioteca Municipal de Beja – Mala d’estórias.
M. de Barros
Vivemos a ditadura do diferente, como se o diferente fosse uma natureza. É no ato de repetir que se faz possível o diferente. Repetir não é um problema, um hábito ou um cacoete, desde que seja uma sequência de repetições todas verdadeiras. O vício não é o igual, mas o desejo pelo igual. Fazer igual é o processo do qual nasce o diferente. No teatro, por exemplo, a repetição é o próprio palco capaz de celebrar o inédito e o criativo. E assim é em qualquer arte, como também nas nossas vidas. A rotina é a tela branca, virgem de diverso e de irregular, onde o silêncio do homogêneo, do indiferenciado, é um convite para incursões no que é distinto. A repetição que faz ficar diferente não é circular e não é a reprodução de um mesmo. É, na verdade, uma espiral que dá voltas que não apenas retornam, mas elevam e transformam.
Nilton Bonder.
Dizem por aí que quando o casal completa quarenta e um anos de casado, celebra-se Bodas de Seda: “delicadeza, nobreza, riqueza e a proteção de uma relação, que, como a seda, foi tecida e fortalecida ao longo dos anos por meio do trabalho, da suavidade e da resistência da união”.
Sim, concordo! Acho que concordamos! Cada um ao seu modo, com suas meiguices e seus resvalos de arroubos emocionais. E tudo bem. Nós seguimos por essa longa estrada cumprindo um projeto, ora meio velado ora às claras, de cumplicidade, de respeito, do sentimento de bem-querer e da vontade de tentar os acertos com as aparas necessárias diante dos excessos que surgem em momentos de distrações. Momentos que nos fazem tropeçar, às vezes trombar, podendo até mesmo tombar, e, novamente, levantar, mirar nossos olhares, olho no olho, e recuperar aquilo que mais valorizamos: o amor, as trocas, os aprendizados e o forte desejo de seguirmos juntos nessa jornada de construções, que mantêm unidas as nossas almas e os nossos corações.
Há quarenta e um anos atrás aceitamos as alianças que, mais do que física, são símbolos do movimento cíclico da vida e, aqui, da vida do nosso encontro e encanto. Tudo perfeito? Não! E que bom, porque a vida é movimento. Ora um pode estar em alta e o outro em baixa. Ora os dois juntos, podem se olhar nas subidas e descidas de humor. Nesse trajeto tem sempre o momento em que os dois se encontram, se olham, se escutam e superam. Esse é o movimento do amor!
Quarenta e um anos juntos. Ou melhor, quarenta e cinco anos e meio! É delicioso lembrar do antes, namoradinhos sonhadores aprendendo a arte de fazer acontecer.
Bodas de Seda: celebrando a perseverança no sonho a dois!
Te Amo!!!
Maria Teresa Guimarães
Sentimentos são apenas visitantes, deixe-os ir e vir.
Mooji.
Os sentimentos são imperativos, mas sua fragilidade é a efemeridade. Os sentimentos não se sustentam e aprender a conviver com eles demanda acolhê-los sem resistência. Resistir às emoções é o que as retarda, caso contrário elas evaporam. É que, tal como o pensamento, só podemos sentir um sentimento de cada vez. E há muitos na fila premindo o da vez para saltar fora. O congestionamento acontece quando você por apego ou resistência impede o andar da mesma. O frescor de uma visita está em sua transitoriedade. Nada mais incômodo do que uma visita intrusiva e sem noção. Não tema seus sentimentos, usufrua-os como a um frescor. No entanto, se persistir, saiba que não é mais um sentimento, mas um pensamento!
Nilton Bonder.
Tornar-se idoso não resulta simplesmente em ter vivido muitos anos, mas decorre mais daquilo que nos tornamos ao longo desses anos, daquilo com que estamos nos preenchendo neste momento e até mesmo a partir do modo pelo qual nos formamos antes que chegássemos a envelhecer muito.
É a partir desse legado que surge minha certeza de que nunca é tarde para aprofundar o mapa. Não importa quantos anos tenhamos vivido, podemos começar agora a nos preparar para aquela travessia que nos levará ao poder da velhice e da sabedoria madura. Todos terão a oportunidade de se reacender como uma força instrutiva e intensa. Mas nós somente chegaremos lá se encararmos esse ponto como nosso destino, a partir de agora.
Clarissa Pinkola Estés, A Ciranda das Mulheres Sábias.
É mais que um ponto, é mesmo uma área – e há nessa área um acúmulo energético ligado com a nossa Qualidade e com o que nos define como um ser humano único.
A Individualidade exerce a função de elo entre a Fonte e o nosso campo energético, que inclui o corpo físico. Tem ligação com a vibração da nossa Qualidade, com a Luz, com o Som, com nosso nome. E a senha para a gente penetrar nessa vibração é o amor. É o Amor da Fonte.
Essa área da Individualidade é o lugar onde podemos fazer contato para reconectar, porque, às vezes, nos sentimos totalmente desconectados de tudo, de todos e de qualquer coisa. Se a gente estiver numa situação difícil, arrancando os cabelos, fica difícil a ligação com a Individualidade. Mas se conseguirmos respirar um pouquinho e levar a consciência para essa área, a ponte com ela se restabelece. As experiências modificam a nossa vibração, nossos pensamentos e não existe exigência para estarmos conectados com a Individualidade. A Individualidade pode ser sempre um espaço de refúgio para um retorno à nossa Essência espiritual.
Você pode localizar a Individualidade, estendendo seu braço 35 a 45 centímetros acima da sua cabeça e relaxar a sua mão, mas faça isso como um ponto de partida, como uma estação onde a gente vai tomar o trem. O contato é feito levando a consciência para essa área, aguardando, respirando, relaxando, confiando e entregando. Deixe que a energia da Individualidade se manifeste.
Isis Pristed, O healing com Isis Pristed – Organização Geraldo Ramos Soares.
Essas aparentes bobagens cotidianas às vezes são capazes de nos oferecer valiosas percepções, quando suas sutilezas não passam despercebidas pelas nossas sensações e sentimentos. A prática da espiritualidade e do autoconhecimento acontece a todo instante e nos convida a atualizar olhares a cada circunstância, bobo que a princípio nos pareça o recurso didático. Essa situação, por exemplo, me fez pensar coisas a respeito de mim mesma. De como tenho me tratado. Do quanto ainda estico a corda até quase arrebentá-la, até quase arrebentar-me, sem necessidade, quando as soluções são possíveis e exigem poucos movimentos. Do quanto ainda me acostumo com o que é desconfortável sem fazer nada para trocar logo de canal. Do quanto, em várias ocasiões, ainda desperdiço energia preciosa que posso utilizar em ações mais úteis e felizes. Do quanto ainda me submeto a limitações nutridas por condicionamentos tão frágeis; não raro, obsoletos. Do quanto ainda adio bem-estar, quando o bem-estar em alguns contextos é pra lá de disponível.
Ana Jácomo
O grande mantra da felicidade, segundo descobri este verão, é olhar para as fotografias do ano anterior, ou melhor ainda de há cinco, ou de há dez anos. Do passado, portanto. O que com a ajuda dos telefones inteligentes, é hoje uma tarefa cada vez mais fácil, contribuindo para tornar esta minha recém-criada terapia contra a neura do envelhecimento numa trend mundial.
Obviamente que, num primeiro momento, entrará em choque, sentindo-se mais infeliz do que nunca — e quanto mais filtros e photoshop tiver usado, pior. Vai reparar que as rugas não estavam lá, que os olhos eram maiores e as pálpebras menos descaídas, a linha do cabelo começava bem mais à frente e a barriga que imaginava gigante, afinal era praticamente inexistente. Sem sombra de modéstia parece-lhe mesmo muito bem, porque será que ninguém lho disse, ou dizendo, não acreditou?
Num segundo momento encher-se-á de raiva: tem a memória clara de que, então, se sentia tão irritado como hoje, com a imagem que o espelho lhe devolvia. Que estava igualmente assombrado por todas as dietas e massagens drenantes que deveria ter feito, e não fez, para não falar nas horas de ginásio e corrida em falta. Mas a verdade é que confrontado pelas fotografias do antigamente, a única coisa que lhe ocorre é por que raio perdeu tanto tempo a lamentar-se, a esconder-se atrás da toalha na praia, a usar uma camisa mais larga para disfarçar as adiposidades, a sentir-se deprimido e a evitar aquela sericaia com ameixa, se na realidade estava mesmo bem, ou pelo menos — o que para aqui importa —, infinitamente melhor do que agora.
E é esse o momento do eureka. O cerne da minha terapia é a tomada de consciência de que este ano, o de 2021 é, de facto, e sem qualquer sombra de dúvida, o melhor ano da sua vida. Como será o de 2022, 2023 e por aí adiante, sempre tendo em conta que a outra alternativa à vida é demasiado definitiva e fatal para o gosto de qualquer um de nós.
Pois é, não há volta a dar. Para trás não pode ir, por muitas máquinas do tempo que lhe prometam, e para a frente lamento informá-lo de que para além da expetativa de vir a ressuscitar num corpo diferente (escolhido à medida), as perspetivas também não são animadoras. Aliás, mesmo que existisse o elixir da vida, há fortes probabilidades de que viesse num frasco lindo, mas com as indicações de uso numa letra tão impossivelmente pequenina que nunca seria capaz de as decifrar — pelo menos a avaliar pelo que acontece nos boiões de cosmética que nos endividamos a comprar. Por isso o meu apelo é que tire muitas fotografias e as deixe a marinar para prevenir a depressão do próximo verão, e arrisque usar toda aquela roupa que anda a dizer que já não tem idade ou corpo para vestir.
Isabel Stillwell, Crônica no Jornal de Negócios. Via Mala d’estórias.