Saúde e educação: Uma questão de escolha.
A imagem ao lado foi publicada em jornal de grande circulação no rio de janeiro como ilustração de uma matéria sobre as péssimas condições de atendimento nos hostpitais públicos. O paciente, deitado no chão, estava em atendimento no setor de emergência de um grande hospital. É sem dúvida lamentável que isto aconteça. O poder público precisa dar conta de situações como esta. Cidadãos votam em seus governantes e pagam impostos para que tal não dê. Este quadro é injusto, indigno e desumano.
Isto posto, vamos ao assunto deste post. A imagem acima tem forte conteúdo emocional, ainda mais no contexto da reportagem. Mas troquemos o contexto. Faça-se a seguinte pergunta: Este atendimento precisa necessariamente ser assim ? Uma resposta possível seria – Claro que não, basta não ir para um hospital público. Mas para isto você precisa ter dinheiro. O pobre está condenado a este atendimento.
É uma reposta de puro bom-senso. Não deveria, mas é assim que as coisas são. O problema do bom-senso é que simplifica coisas que são complexas. por exemplo; qual é o conceito de “pobre” que temos?
Aqui, neste contexto, podemos entender “pobre” como o indivíduo que por esta ou aquela razão tem tão pouco dinheiro que mal pode se sustentar. Depende sempre do auxílio alheio – para tratar da sua saúde, morar, comer, e se vestir.
Assim sendo, se a pessoa acima é “pobre”, ela está condenada a ser mal tratada em sua saúde, morar mal, comer mal e vestir-se mal. Simples assim. Simples assim? Observe-se abaixo, um detalhe da foto acima:
Esta pessoa está usando, ao que me parece um tênis de grife. É uma marca conhecida, cujas lojas se encontram apenas em shoppings localizados em lugares de alto poder aquisitivo. Não é um calçado barato. Pelo menos ao que se refere aos pés; esta pessoa está bem vestida. Mas, é claro, está sendo mal tratada.
Há portanto, nesta situação, alguma coisa que não se encaixa.
A mim, parece que o problema é de escolha. Com o valor daquele tênis, aquela pessoa poderia ter pago de dois a três meses de um plano de saúde dos mais baratos. E a grande maioria deles oferece atendimento de emergência. Mas, aparentemente ela não o fez. Condena-se então ao atendimento inqualificável que se vê. Um problema de escolha.
A questão da escolha está no cerne do problema. Que o estado tem responsabilidades pela saúde da população, ninguém discute. Que o vestuário é uma decisão pessoal, também não. Mas o que fazer quando o esstado não faz o que deve? Com certeza criticar e votar com consciência. E enquanto o atendimento digno não vem?
A mesma pergunta se faz com a Educação. É dever do Estado, e ela está do jeito que está. Na sala de aula, professores deveriam dar aulas interessantes e motivadoras. Não o fazem – em média e por muitas razões externas a eles. Escolas depredadadas e sem professores.Alunos reclamam de professores ruins. e ás vêzes com razão.
Aqui também uma questão de escolha. O problema de dizer que a culpa não é sua, e frequentemente não é; é que mesmo sendo verdade, o prejuízo é seu. AS pessoas sofrem com o mau atendimento. As pessoas deixam de aprender o que podiam. Pagam preços por conta das responsabilidades de terceiros, e perdem muitas chances na vida por causa disto.
A escolha aqui se torna ainda mais importante. A culpa pode ser do outro, mas há coisas que elas próprias podem fazer para minimizar os prejuízos. Uma escola pública um pouquinho melhor mesmo que mais longe. Um professor, uma escola particular bem escolhida ou plano de saúde, mesmo que para pagá-la seja necessário cortar alguns itens do orçamento. Em resumo, atitudes que tragam benefícios reais e duradouros mesmo que a custa de certos sacrifícios.
Mas para isto é necessário escolher. Uma escolha que não é isenta de custos. Escolher significa colocar em ação a a palavra “OU”. Implica em abrir mão de algumas coisas em benefício de outras(*).
É como diz a Cecília Meirelles:
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(*) Nota: Há muitas e legítimas razões para a pessoa da foto estar usando aqueles tênis, assim como há também múltiplas e legítimas razóes para “pobres” (como definido no texto) comprarem calçados de grife. Não tenho a intenção de desrespeitar qualquer ser humano que seja, muito menos humilhá-los. Quis isto sim, chamar a atenção para o fato de que as pessoas tem alternativas. Que não devem submeter-se passivamente ao meio. Que podem fazer escolhas mesmo que não as ideiais. Finalmente que as escolhas tem um preço.