Do Ensino à Aprendizagem: A Europa Medieval (1/2)
Na Idade Média, o Cristo educador propunha uma pedagogia concreta. Parábolas criadas no calor dos fatos, a partir de um duplo domínio das linguagens erudita e popular; tradição mantida até hoje pelo sacerdócio. A educação medieval era dual, com as escolas catequéticas dirigidas para o povo e as escolas monacais garantindo a preservação da cultura greco-romana.
Neste ponto da história surge um fenômeno interessante. Até então, dentro de certos limites, as noções de aprendizagem cursavam próximas aos conceitos de liberdade e democracia. Estando a educação cada vez mais afastada dos desígnios divinos e mais próxima das necessidades humanas, o reconhecimento do outro na relação surgia em um contexto mais aberto. Modelos mais autoritários em sociedades mais autoritárias e tradicionalistas. Modelos tendendo a reconhecer no aprendiz e no processo de aprendizado, características a influenciar o ensino; acompanhando estruturas mais democráticas.
Na Europa medieval esta aproximação se desmancha. É inegável o poder da Igreja no homem medieval. As causas desta hegemonia são múltiplas; mas um fator a ser considerado foi a eficiência com que ela transmitiu e manteve suas idéias durante este período. Desta maneira, há que se considerar por um lado a eficiência citada, implicando no uso de processos adequados ao contexto. Por outro, na difusão de idéias que progressivamente retiravam do controle humano a gerência de suas vidas e da sociedade.
Esta educação religiosa era baseada nos dogmas cristãos, substituindo as culturas anteriores, baseadas na existência terrena, aristocratismo e heroísmo, pelo poder de Cristo – “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Todo o poder me foi dado”-. O novo ideal educacional concentra-se no aspecto moral do ser humano. A educação torna-se ainda mais autoritária. O conhecimento vem de Deus.Santo Agostinho afirma […]?que não se chame a ninguém de mestre na Terra, pois o verdadeiro e único Mestre de todos está no céu […]?. Constantino no século IV, centraliza o ensino, tornando-o pela primeira vez aparelho ideológico do Estado.
Para Tomás de Aquino, a educação permite habituar o educando a mostrar todas as suas potencialidades. Faz assim a síntese entre a educação cristã e greco-romana – educação integral. No entanto, entenda-se esta afirmativa no contexto medieval, onde a aspiração máxima era a imitação de Cristo. Assim é que não se está falando do desabrochar de individualidades, mas na capacidade de tornar-se um cristão melhor, do ponto de vista da cúpula eclesiástica. Ainda mais, a conciliação com os conhecimentos anteriores, faz-se a partir de uma leitura muito particular da filosofia grega, uma ênfase nas idéias platônicas em detrimento das aristotélicas.
Por outro lado a Igreja produz conhecimento de forma muito dinâmica no seu seio. O período medieval é efervescente em discussões teológicas. A Igreja de Roma, em particular, desenvolve brutal esforço (intelectual e policial), na defesa de sua visão particular das escrituras. Tal esforço implementa-se não só no interior da cristandade, haja visto o problema das heresias, como também em um contexto de conflitos externos entre muçulmanos e cristãos.
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