Construtivismo: Vygotsky e suas influências
Durante a década de 1924-34, Vygotsky desenvolveu o que alguns consideram como a alternativa mais poderosa às idéias de Piaget (Sutherland, 1996). Apesar de sua breve carreira, permanece vivo em seus discípulos e na influência que exerce sobre algumas correntes importantes da atualidade.
Ressurge por exemplo, na perspectiva sócio interativa, que defende que o desenvolvimento intelectual da criança não pode ser entendido em um vácuo social. A teoria de Bruner tem com ele importantes interfaces. Consideremos por exemplo o trecho a seguir retirado de seu livro Pensamento e Linguagem (1973):
“Os conceitos novos e mais elevados, por sua vez, transformam o significado dos conceitos inferiores. O adolescente que dominou os conceitos algébricos, atingiu um ponto favorável, a partir do qual vê os conceitos aritméticos sob uma perspectiva mais ampla”
Aí o autor desenvolve um raciocínio bastante próximo ao que Bruner posteriormente denominaria de Sistemas de Codificação.
Além disto, tanto o movimento do processamento de informação como o da metacognição, podem considerar Vygotsky como seu fundador. Este pela sua preocupação com controle consciente pela criança de sua aprendizagem, que Vygotsky considerava uma meta desejável. Aquele pela comunhão de interesse nos fatores envolvidos na aprendizagem, e em como ela pode ser maximizada.
Conceito útil em Vygotsky é o da zona de desenvolvimento proximal. Considera que cada criança tem um potencial de aprendizagem inaparente. Este potencial não se concretiza se a criança não é estimulada para tal. Mesmo estando em nível de desenvolvimento cognitivo semelhante, cada aluno diferencia-se do outro pelas dimensões de sua zona de desenvolvimento proximal. A seu ver, cabe ao professor desafiar o aluno a atingir níveis que de outra maneira não o faria. A relação entre aluno e professor é da máxima importância. Neste ponto, Vygotsky exerceu considerável influência sobre Bruner.
O aprendizado colaborativo pode buscar em Vygotsky sua fundamentação. Para ele, o relacionamento de uma criança com os seus colegas de turma é também significativo. Defendeu a utilização de uma criança mais desenvolvida para ajudar uma outra menos desenvolvida. Argumentou que isto não é necessariamente um sacrifício para o aluno mais avançado. Isto porque ao explicar e ajudar a outra criança, pode conquistar uma maior compreensão explícita de sua própria aprendizagem, em termos metacognitivos. Além disto, ao ensinar um tema consolida a sua própria aprendizagem.
Discriminou ainda entre a gênese dos conceitos espontâneos e os científicos. Os primeiros resultantes da observação da própria criança. Os outros, oriundos da educação formal. Da sua gênese, afirmou que tomam direções contrárias. Os espontâneos iniciam-se pela experiência. Primeiro a criança convive com seu irmão. Só depois desenvolve a capacidade de conceituar o termo irmão. Já os científicos, começam geralmente com uma definição verbal e sua aplicação em situações não espontâneas. Em seguida, vão sendo progressivamente ampliados no decorrer da escolarização posterior. Pode-se dizer então que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos da criança é ascendente, enquanto dos científicos é descendente.
A conseqüência disto para aprendizagem é clara. Uns e outros têm significados diferentes para o indivíduo. Os espontâneos são sólidos e carregados de significado existencial. Para apreendê-los e desenvolvê-los nada se exige além de viver. Já os científicos, pela sua própria definição, são menos densos e impregnados de vida. Ainda mais, para desenvolvê-los é necessário um trabalho formal e específico. Não surpreende que o ensino competente seja tão difícil e o estudo autônomo eficaz tão raro.
Discutir o problema das relações entre a linguagem e o pensamento é fundamental para a aprendizagem. Se considerarmos que o processo de aprendizagem ocorre quando o novo é integrado dinamicamente ao antigo, e que a palavra tem importante papel mediador, é fácil compreender porque Vygotsky não pode ficar à margem do debate educacional.
Vygotsky complementa o trabalho de Bandura, teoria eclética da socialização humana que considera a aprendizagem do comportamento social como decorrente de variáveis comportamentais, cognitivas e ambientais. Por outro lado, é componente chave da teoria de Aprendizagem Situacional de Lave, que desenvolve sua teoria baseado em situações reais de aprendizagem. Por enfocar seu trabalho no desenvolvimento cognitivo é interessante comparar seus pontos de vista com Piaget e Bruner.
Finalmente pode-se dizer que o tema principal da teoria de Vygotsky é que a interação social tem um papel fundamental no desenvolvimento da cognição. Ele diz que:
“Qualquer função do desenvolvimento cultural da criança aparece duas vezes: primeiro, no nível social e depois no individual; primeiro, entre pessoas (interpsicológico) e em seguida no interior da criança (intrapsicológico). Destina-se igualmente para atenção voluntária, memória lógica e formação de conceitos. Todas as funções superiores se originam como um relacionamento atual entre indivíduos”.
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Comentários são bem vindos.
Como posso relacionar Vigotsky com as idéias pedagógicas da atualidade?
Leia com cuidado este post que ele trata exatamente disto, sempre do ponto de vista da aprendizage, que é o nosso foco.
No sentido mais geral veja o que diz a citação abaixo:
“A obra de Vygostsky busca um modelo explicativo que contemple os mecanismos cerebrais do funcionamento psicológico e a constituição do sujeito no processo histórico-cultural”
Marta Kohl de Oliveira (2005)
Um grande abraço,
Prof. Mauricio Peixoto