CONHECER COMO DANÇA: Uma metáfora
Ao aproximar as visões de Whitehead, Dewey, Freire e Rogers sobre o conhecimento, Gill entende que, suas contribuições mais valiosas, vão no sentido de reforçar a necessidade de ver a atividade cognitiva como deve ser vista; mais do que uma mera assimilação ou uma recepção passiva.
A principal dificuldade em cada caso é que estes autores não levam suas percepções longe o bastante. Dirigem-se à uma compreensão reducionista e analítica da natureza da experiência cognitiva. Isto se dá na medida em que consideram o aprendiz e o conhecimento como pertencente à realidades separadas e independentes.
Neste contexto, SER é existir como uma unidade independente e autoconstituida. Conhecer é isolar, definir e explicar cada unidade em termos de outras unidades, até que se obtenha o último e irredutível bloco de realidade. Ainda mais, enquanto esta análise não estiver completa, não se pode afirmar o conhecimento o seu sentido mais próprio. Seguindo a concepção de Michael Polanyi, designarei esta visão atomística como “filosofia crítica”.
As implicações educacionais desta visão são amplas. Os sistemas educacionais americano e europeu (*) centraram-se no esforço de aprender a isolar, analisar e explicar os diferentes dados da experiência como partes isoladas a partir das quais o mundo é construído. O resultado final é a compreensão do processo de conhecer assumindo que o aprendiz e o conhecimento são distintos e independentes um do outro.
Este modelo de compreensão explica a prática educacional tradicional de tratar o conhecimento como uma realidade estática, em que o conhecimento de cada conhecedor, o professor, é transferido para outros conhecedores, os alunos. Este modelo contradiz a compreensão filosófica da cognição como primariamente, se não exclusivamente, uma função da mente.
Já a metáfora guia que serve de eixo para as considerações de Gill é a dança. Este autor entende que a característica focal da atividade cognitiva é a interação entre o aprendiz e o meio, tanto físico quando social. “Essa interação relacional consiste em um processo de troca – dar e receber – em que ambos, o aprendiz e o aprender se definem mutua e continuadamente” (pg 2).
Dançar envolve tanto o corpo quanto a mente, é uma atividade social que se relaciona horizontalmente com outros dançarinos e verticalmente com o que se vai dançar. A interação social incorporada numa contínua transformação do meio repousa no centro da cognição humana e deve formar a essência da teoria e prática educacional.
Implícitos nesta metáfora estão três pressupostos sobre o ato ou processo de conhecer:
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O conhecer é relacional, isto é decorre da interação entre o aprendiz e o conhecimento
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O conhecer é uma atividade. Interagir é agir entre, é uma ação executada pelo aprendiz, que sofre / recebe as influências do meio (físico, social, intelectual, etc). No entanto, mais do que interação entre a mente e o conhecimento apenas, ele também inclui a participação do corpo, de maneira integrada.
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O conhecer é social. Não ocorre em um vácuo pessoal. Surge da inserção do homem no seu meio, pressupondo uma linguagem. Esta mais que forma de comunicação é também ferramenta de construção/ modficação do mundo. Ainda mais, é construída socialmente, estando já presente quando aqui chegamos.
Mesmo Dewey, Freire e Rogers nos seus esforços de enfatizar a qualidade relacional da atividade cognitiva, nunca extraíram suas visões do emaranhado da herança epistemológica contida na filosofia moderna ou crítica. Ao explorar a metáfora da dança Gill nos apresenta um amplo esboço da atividade cognitiva; mais adequada e útil do que a apresentada pela filosofia crítica. Procura ainda completar isto explorando a fábrica de experiências de cognição na perspectiva do pensamento de Maurice Merleau-Ponty e Michael Polanyi. Mas isto é tema para “posts” vindouros…
(*) e também o brasileiro
Referência: Gill, Jerry H.: Learning to Learn: Toward a Philosophy of Education (cap 2), – Ed.:Humanities Press Internacional, Inc., Atlantic Highlands, New Jersey, pp 38-9, 1993.
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