Ter e Ser – Duas formas de aprender.
Hoje iniciamos um novo tópico, nos próximos meses discutiremos Estilos de Aprendizagem. Mas foi em outubro de 2007 que inciamos a publicação de posts na categoria “Aprendizagem – Estratégias e Estilos”. De lá para cá traçamos um histórico do processo educativo na perspectiva da aprendizagem e em seguida apresentamos as diferentes teorias da aprendizagem.
Pois bem, compreender as idéias expostas até o momento, nos leva a valorizar a atitude do aluno em relação ao conhecimento e ao aprender. Estudar aquisitivamente ou interativamente, faz muita diferença. Barnes (1995), desenvolveu estes dois conceitos baseado em Fromm. Na sua obra Ter ou Ser, ainda representativa e de considerável influência, promove discussão muito mais ampla do que esta sobre formas de estudar.
De interesse para o tema em tela, Fromm sugere que a idéia de adquirir conhecimento é um dos principais obstáculos para um estudo eficiente. Isto é, afirma que conhecimento ou aprendizagem, não são coisas a adquirir. Neste sentido, ter conhecimento é tomar e conservar a posse do conhecimento disponível (informação). Já conhecer, é funcional e serve apenas como meio no processo de pensamento produtivo, o que permite uma aprendizagem melhor. Barnes, relacionando estas idéias às formas de estudar, estabeleceu então dois modos de aprender: o aquisitivo e o interativo.
O modo aquisitivo de estudar concebe o conhecimento como algo a ser adquirido, e tudo o que se precisa é descobrir como possuí-lo. Transforma o estudo em um aglomerado fixo de idéias e teorias que deve ser armazenado. Aluno e aula são estranhos um ao outro, pois o primeiro se tornou apenas o proprietário de um conjunto de informações feitas por uma outra pessoa.
Já no modo interativo de estudar, o estudo tem proposta bem diferente: tenta-se aprofundar nas afirmações e informações a fim de levantar questões, analisar e testar modelos para si próprio. Assim, o que se ouve estimula os processos mentais, originando novas idéias e mudanças. Ocorre participação ativa na aprendizagem, pois tenta-se entender conceitos e questões, ao invés de possuir conhecimento. Ocorre um processamento das informações e o cérebro não permanece neutro, como se aglomerasse blocos fixos de idéias.
Fromm argumenta que a memória não é algo que alguém possa ter, pois não há nada para se ter. Lembrar é algo que fazemos pela recuperação de imagens e acontecimentos que deixaram impressão prévia. Ter boa memória é na verdade a capacidade de se lembrar. Recordar é uma função do modo interativo, é um processo ativo. Sob este ponto de vista, pode-se entender que ao sublinhar palavras em um texto, dependendo do modo de aprender utilizado, ou o aluno adquire uma coleção de informações ou processa uma coleção de idéias.
É certo que, no fundo todos querem se agarrar ao conhecimento como afirmações ou informações, e neste sentido todos somos um pouco aquisitivos. O problema é que novas idéias podem ser particularmente ameaçadoras. A última coisa que se quer é que apareça alguém para modificar o que já está definido. Mas por outro lado, o modo interativo de ser permite o estímulo aos processos mentais, originando novas idéias e mudanças de forma ativa.
Quando apenas se armazena informações, é pouco provável que os processos mentais estejam trabalhando na construção de um melhor entendimento do material que se tem em mãos. Como dito por Fromm:
“Adquirir é tomar posse de um conhecimento disponível (informação); conhecer é funcional e faz parte do processo de pensamento produtivo” (1979).
Um problema adicional com adquirir informação é que, muitas vezes a que pode ser adquirida é a de menor valor. No processo de comunicação autores freqüentemente usam informações apenas como veículo para transmissão de suas idéias. Desta maneira, quando o aluno procura adquirir informação, ele ignora as idéias. Centra sua atenção no acessório em detrimento do essencial.
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