Do Ensino à Aprendizagem: A Idade Moderna (2/2)
A Revolução Francesa pôs fim ao absolutismo, discurso já presente nas idéias dos pensadores participantes do movimento chamado Iluminismo. Foi considerada a revolução pedagógica nacional francesa do final do século. Os grandes teóricos iluministas pregavam uma educação laica e gratuita oferecida pelo estado para todos. A escola pública é filha dessa revolução burguesa.
A Revolução Francesa baseou-se também nas exigências populares de um sistema educacional. O projeto mais importante é o de Condorcet que propôs o ensino universal para eliminar as desigualdades. Contudo, não era o mesmo para todos, pois se admitia a desigualdade natural entre os homens. A revolução da burguesia queria formar trabalhadores como cidadãos partícipes de uma nova sociedade liberal, democrata. Os pedagogos revolucionários foram os primeiros políticos da Educação. Apesar da filosofia, o sistema manteve-se dual. Dirigido à classe dirigente, a instrução centrava-se nas competências para governar. Já para a classe trabalhadora havia a educação para o trabalho.
Entre os iluministas destaca-se Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Para ele a felicidade e o bem estar são direitos naturais de todas as pessoas e não privilégios especiais de uma classe. A organização social e a educação existem para garantir esses direitos.
A influência dele no campo educacional deveu-se principalmente a seu livro Emílio ou de Educação, que se constituiu no marco que divide a velha e a nova escola. Nele descreve a educação de uma criança que é retirada da influência dos pais e da escola, isolada da sociedade e entregue a um professor ideal que a educa segundo os padrões da natureza e em contato permanente com esta.
“Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo que não temos ao nascer, e de que precisamos quando adultos, é-nos dado pela educação.
Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas.
Cada um de nós é portanto formado por três espécies de mestres […]“(Rousseau)
A educação não deve só instruir, mas permitir o desabrochar da natureza. Divide-a em três momentos: infância, adolescência, maturidade. Também por sua influência, a burguesia promove a transição do controle da educação da Igreja para o Estado, criando-se assim, o ensino público nacional não religioso.
Rousseau, contribuiu, influenciando a educação em épocas posteriores, principalmente em quatro aspectos (Monroe):
- Educação natural: que deve respeitar o desenvolvimento natural da criança – “Aconteça o que acontecer abandonai tudo que torne penosa a tarefa da criança, porque só é de importância que ela nada faça contra a sua vontade e não que aprenda muito”.
- Educação como processo: porque se trata de um processo contínuo que dura toda a vida – “O que devemos pensar dessa educação bárbara que sacrifica o presente a um futuro incerto, que sobrecarrega a criança com cadeias de todas as espécies e começa por fazê-la infeliz visando prepará-la muito tempo antes para uma pretensa felicidade que provavelmente nunca chegará a gozar?”.
- Simplificação do processo educativo: pois a educação deve ser tão simples quanto é simples a natureza – “Em geral, nunca substituir a coisa pela representação, salvo quando é impossível mostrar a coisa, porque a representação absorve a atenção da criança e a faz esquecer a coisa representada”.
- A importância da criança: do ponto de vista da educação, até Rousseau a criança era considerada um adulto em miniatura. Foi o precursor da psicologia do desenvolvimento, dando atenção às diversas fases do desenvolvimento da criança, defendendo uma educação diferente para cada fase, determinada pela natureza da criança e seu crescimento.
Muitas das suas propostas influenciaram o movimento da educação nova e são discutidas até hoje, já que, em muitos aspectos ainda se tenta realizar essas propostas.
Rousseau então trouxe à tona a questão fundamental de uma aprendizagem que reconhece a presença do aprendiz como partícipe no processo. Cabe ao mestre reconhecê-lo, respeitando as características individuais e sugerindo a aprendizagem como de caráter relacional. No entanto mesmo aí. a sua participação ocorre mais como objeto do ensino. Assim, em Locke e a “tabula rasa”; em Rousseau e sua opinião sobre a infância: “nascemos estúpidos, precisamos de juízo”, entenda-se a percepção das características do aluno apenas como uma necessidade de melhorar o processo de ensino. Não implicam portanto, no reconhecimento do aprendiz como construtor da sua própria aprendizagem, idéia esta já presente em Rabelais e Montaigne.
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