Quais os dois elementos essenciais da inteligência intrapessoal? (ou da interpessoal?)
Baseado em Gardner, H.: As Inteligências Pessoais,
in Gardner, H.:Estruturas da Mente:
A Teoria das Inteligências Múltiplas,
Porto Alegre, Ed Artes Médicas Sul, 1994
A semana passada recebi a pergunta cuja resposta eu dou aqui. Faço-o porque acho que ela interessa a muito mais gente que apenas à pessoa que deixou o comentário. Pela sua pergunta eu agora agradeço publicamente a oportunidade de esclarecer. A pergunta deixada foi:
"Segundo Gardner, quais os dois elementos essenciais da inteligência intrapessoal?".
Bem, vamos à resposta:
Há pelo menos dois aspectos em sua pergunta: "Segundo Gardner, quais os dois elementos essenciais da inteligência intrapessoal?".
O primeiro é que ela se parece com questão de prova ou trabalho de faculdade. Neste aspecto, saber se a pergunta faz sentido ou não depende de como o assunto foi tratado em aula e dos objetivos do professor. Por isto não me cabe qualquer comentário a respeito.
O segundo aspecto se refere ao contexto do meu post. Nele eu não apresentei "elementos essenciais" e sim características prováveis de um indivíduo com inteligência intrapessoal bem desenvolvida. Assim dizer que que alguém "é intrapessoal" significa dizer que aquele conjunto (ou parte dele) é facilmente reconhecível na pessoa. Agora o que é "facilmente" e qual parte o conjunto é significativa depende de julgamento pessoal e experiência prática no trato com o assunto. Por isto não há sentido na pergunta feita.
No entanto é relevante perguntar-se, isto sim, o que é essencial (que é necessário, indispensável) para reconhecer a existência da inteligência intrapessoal. Gardner propõe uma teoria que postula a existência de múltiplas inteligências, em oposição aos defensores da inteligência única. Por isto ele propõe uma definição geral para inteligência, definições particulares para cada tipo de inteligências e finalmente critérios para validar a existência e argumentos em defesa de cada uma das inteligências propostas. Eu publiquei vários posts sobre o tema. Há quatro que são específicos sobre definição geral e critérios (partes 1 e 2). Além disto há outros que falam sobra cada inteligência e os argumentos em sua defesa (você encontra uma lista dos já publicados ao final deste post.
Neste sentido e voltando à questão original, o que é essencial é a definição (descrição de – algo ou alguém) – por seus caracteres distintos) de inteligência intrapessoal. E aqui Gardner é claro, quanto ao que é cada uma. Por isto reproduzo “ipsis literis” o que ele apresenta em seu livro
Inteligência Intrapessoal
Neste capítulo examinarei o desenvolvimento de ambos aspectos da natureza humana. De um lado há o desenvolvimento dos aspectos internos de uma pessoa. A capacidade central em funcionamento aqui é o acesso à nossa própria vida sentimental (grifo meu) – nossa gama de afetos e emoções: a capacidade de efetuar instantaneamente discriminações entre estes sentimentos e, enfim, rotulá-las, envolvê-Ias em códigos simbólicos, basear-se nelas corno um meio de entender e orientar nosso comportamento. Em sua forma mais primitiva, a inteligência intrapessoal equivale a pouco mais do que a capacidade de distinguir um sentimento de prazer de um de dor e, com base nesta discriminação tornar-se mais envolvido ou retrair-se de uma situação. Em seu nível mais avançado, o conhecimento intrapessoal permite que detectemos e simbolizemos conjuntos de sentimentos altamente complexos e diferenciados. Descobre-se esta forma de inteligência desenvolvida no romancista (corno Proust) que é capaz de escrever introspectivamente sobre sentimentos, no paciente (ou terapeuta) que chega a adquirir um conhecimento profundo de sua própria vida sentimental, no velho sábio que baseia-se em sua riqueza de experiências internas para aconselhar os membros de sua comunidade.
Inteligência Interpessoal
A outra inteligência pessoal volta-se para fora, para outros indivíduos. A capacidade central aqui é a capacidade de observar e fazer distinções entre outros indivíduos e, em particular, entre seus humores, temperamentos, motivações e intenções (grifo meu). Examinada em sua forma mais elementar, a inteligência interpessoal acarreta a capacidade da criança pequena de discriminar entre os indivíduos ao seu redor e detectar seus vários humores. Numa forma avançada, o conhecimento pessoal permite que um adulto hábil leia as intenções e desejos – mesmo quando foram ocultados – de muitos outros indivíduos e, potencialmente, hajam em cima deste conhecimento – por exemplo, influenciando um grupo de indivíduos díspares a comportar-se ao longo de linhas desejadas. Vemos formas altamente desenvolvidas de inteligência interpessoal em líderes políticos e religiosos (um Mahatma Gandhi ou um Lyndon Johnson), em pais e professores hábeis e em indivíduos envolvidos em profissões de ajuda, sejam eles terapeutas, conselheiros ou xamãs.
Espero com isto ter sido capaz de responder
à pergunta feita. Obrigado “nareliane” !
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Boa noite
professor mauriço o Senhor pode me ajudar a reponder a minha pergunta? gostaria de saber sobre um comentario de pessoa com o estilo de aprendizagem intrapessoal para fazer um trabalho de recuperação. o brigado Deus te abençoe.